O psicopedagogo na visão do docente no cotidiano escolar: um estudo com docentes no Rio de Janeiro

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Prof.ª Drª Marcia Pinto Bandeira

Resumo
O trabalho busca objetivamente saber a representação do psicopedagogo, no cotidiano escolar, no discurso do corpo docente institucional. Para chegarmos a essa representação optamos por metodologias qualitativa e interpretativa, inserindo-se em uma tradição hermenêutica. Os dados foram coletados por meio de entrevistas semiestruturadas, com sujeitos definidos como “genéricos” representando o corpo docente. Esses dados foram trabalhados através da técnica de análise de discurso, na linha teórica de MAINGUENEAU (1989) com um trabalho paralelo de historicização da psicopedagogia e do papel do psicopedagogo no cotidiano escolar. Vimos, portanto que o psicopedagogo, não conta legalmente com nenhum tipo de obrigatoriedade da sua presença na instituição escola, porém, suas atribuições e área de ação são de um relativo conhecimento dos professores. Professores que os veem como um aliado no processo de aprendizagem escolar, que não percebe seu trabalho como algo posterior as dificuldades, mas, que junto aos professores buscam estratégias para de melhorar o processo educativo, ou melhor, pedagógico na escola. Considerando tanto o lado cognitivo como o comportamental do aluno, transformando o processo de aprendizagem em algo mais prazeroso.

Palavras-chave

Cotidiano escolar; psicopedagogia; instituição escolar.

1. Introdução

O referido trabalho buscou avaliar a presença de um(a) psicopedagogo(a), dentro da instituição escolar, sabemos das suas atribuições, e, de que forma esse profissional pode auxiliar o processo de aprendizagem no cotidiano escolar. Podemos afirmar que, sua contribuição é de grande valia, devido sua formação interdisciplinar e a sua atuação transdisciplinar. Assim, pode ser um fator estrutural nas mudanças de pequeno porte como definidas pela legislação vigente na área de ensino, e também que esse profissional pode atuar como um fator de interação entre as comunidades escolar, o corpo docente, discente e suas famílias. Contudo, a nossa questão não gira em torna das suas atribuições, mas, sim, de como esse profissional é visto ou compreendido pela comunidade escolar, aqui representada por professores regentes da rede pública de ensino, todos como uma formação acadêmica mínima de especialização ou detentores de um título de especialista, mestre ou doutor e pós-doutor. Presentes, nos quadros do ensino superior e do ensino médio, mas todos com uma larga experiência em Educação Básica.

Nossa pesquisa lançou mão de uma metodologia qualitativa e interpretativa, na qual aceitamos a ideia de existência de múltiplas realidades, pois trabalha com o argumento de que o que existe é dependente da mente, sendo assim, a realidade é imaginada e criada pelas nossas mentes. Assim, nos distanciando da ideia de uma realidade pré-existente, e, independente e externa aos indivíduos, portanto, a relação sujeito-objeto deve ser vista e definida como uma relação sujeito-sujeito. A coleta de dados foi feita por meio de entrevista aberta e semiestruturada, pois possibilitou uma maior liberdade aos sujeitos no sentido de expor suas ideias tendo em seu bojo, comunicação e discurso, de onde saem significados e objetos sociais. Utilizamos como método de análise das entrevistas, a técnica de análise de discurso, apoiada teoricamente por MAINGUENEAU (1989), utilizando os três campos de análise: o discursivo, frasal e lexical. Consequentemente utilizamos poucos sujeitos genéricos (SPINK, apud GUARESCHI. 1994), aqueles que devidamente contextualizados tem o poder de representar o grupo no indivíduo.

Entendemos que essa pesquisa apesar de ser apenas uma parte do que pode ser realizado, nos aponta uma questão relevante dentro do debate da psicopedagogia. Estudos e artigos discutem a participação, as contribuições e as atribuições de um psicopedagogo na instituição escola, contudo, ainda não temos uma visão de como esse profissional é visto pelo corpo docente. De que forma, esse corpo docente o aceita ou rejeita, de que forma esse docente pode apoiar, se unir e até mesmo cobrar a atuação desse psicopedagogo dentro da escola, ou melhor, da sua ação conjunta para que o processo de aprendizagem tenha um ambiente, uma metodologia e um projeto que o leve a ser bem sucedido. É de grande importância para o sucesso da sua atuação que ele tenha a aceitação da sua participação pelo corpo docente, portanto necessitamos saber como esse corpo docente reage a presença desse profissional, como o vê dentro desse processo. Chegamos assim, a ideia de que a presença do psicopedagogo, não assusta o docente, ao contrário alguns que tiveram experiência de trabalho conjunto, acreditam que esse trabalho conjunto seria de grande valia para o processo de aprendizagem de “todos” os alunos. Mas, infelizmente em nosso universo, rede pública localizada no município do Rio de janeiro, esse profissional não existe como cargo efetivo do funcionalismo público.

Introdução

Desenvolvimento:

1.O que definimos como psicopedagogia.
1.1: Definição

Entre várias definições apresentadas, diante do seu campo teórico-metodológico, ainda em construção, podemos de forma genérica, defini-la como uma ciência que tem como objeto, o processo de aprendizagem, ou melhor, a compreensão do fenômeno da aprendizagem humana.

Mesmo que autores como, SISTO (1996), CAMPOS (1996) e SOUZA (1996), discutam a sua definição, todos nos levam a um lugar comum, o problema com a aprendizagem, seja a escolar, como em SISTO, normal ou com dificuldades, ou, como SOUZA (1996), que foca sua definição na criança como objeto.

Em NEVES (1991.p.24 apud Bossa,2007), a psicopedagogia, estuda o ato de aprender e ensinar, considerando as realidades internas e externas, em síntese, estuda a construção do conhecimento considerando igualmente aspectos: afetivos, sociais e cognitivos, alargando assim seu campo de investigação e atuação. GOLBERT (1995, p.13 apud BOSSA, 2007), a coloca em duas esferas, a preventiva e a terapêutica, a saber: a preventiva busca dar conta do processo educativo no ser humano enquanto a terapêutica, identifica, analisa e elabora uma metodologia de diagnóstico e de tratamento das dificuldades encontradas. Segundo RUBINSTEIN (2012), em um primeiro momento, desenvolve uma busca de métodos que atendam aos portadores de deficiência, objetivando, assim, a reeducação para superação dos sintomas. Além de investigar a etnologia da dificuldade de aprendizagem, enfim, a compreensão do processamento da aprendizagem. Dessa maneira, buscando a melhoria das relações de aprendizagem, para que se alcance uma melhoria na construção qualitativamente da aprendizagem.

Em síntese, podemos esclarecer que a psicopedagogia, tem como objeto o processo de aprendizagem, considerando os aspectos sociais, afetivos e cognitivos, envolvidos neste, buscando atuar na construção qualitativa desse processo, investigando-o, e chegando a diagnósticos, corretores e prevenções de quaisquer anomalias nesse processo. Atualmente, a concepção de aprendizagem ampliou-se e engloba no seu processo, elementos biológicos, afetivos e intelectuais, envolvendo também a relação do sujeito com o meio externo, na verdade, as condições socioculturais do sujeito e do seu meio. Trazendo, assim, para o seu campo de estudo, a questão de como o sujeito aprende, para FERNANDEZ (1991), cada um, ou melhor, cada sujeito tem a sua modalidade de aprendizagem, seus meios, condições e limites para conhecer, formando assim, três grandes pilares para psicopedagogia: a prática clínica, a construção teórica e o tratamento psicopedagógico-didático.

Segundo KIGUEL (1991), a psicopedagogia, ainda em fase de construção e organização do seu corpo teórico especifico, hoje está localizada em uma interseção entre a psicologia, a neuropsicologia, a pedagogia, psicolinguística e ainda a fonaudiologia. Como vimos no trecho abaixo da referida autora:

[…] historicamente a psicopedagogia surgiu na fronteira entre a pedagogia e a psicologia, a partir das necessidades de atendimento de crianças com “distúrbios de aprendizagem”, consideradas inaptas dentro do sistema educacional convencional (…) no momento atual, à luz de pesquisas psicopedagógicas que vêm se desenvolvendo, inclusive no nosso meio, e de contribuições da área da psicologia, sociologia, antropologia, linguística, epistemologia, o campo da psicopedagogia passa por uma reformulação. De uma perspectiva puramente clínica e individual busca-se uma compreensão mais integradora do fenômeno da aprendizagem e uma atuação de natureza mais preventiva. (KIGUEL, 1991, p.22 apud BOSSA,2007 p.20)

Tendo como referências para sua base teórica autores como Piaget, Vygotsky, Gardner, Wallon, Freud, Perrenound, Ausebel etc. Dentre os autores brasileiros destacamos: M. Neves, Kiguel, Scoz, Golbert, Weiss e Rubistein, e no campo latino-americano, sobretudo argentino: Alicia Fernandez, Sara Pain, Jorge Visca, Mariana Muller.

No seu campo de atuação podemos identificar duas grandes áreas: Saúde e Educação. Portanto em respeito a seu caráter multidisciplinar, recebe contribuições para seu campo teórico de diferentes áreas, a exemplo das citadas acima. Da psicanálise, vem a produção teórica/prática que nos auxilia nas questões com o inconsciente; da psicologia social, as relações com o grupo; da epistemologia ou psicologia genética, o processo de construção do conhecimento; da linguística, a compreensão da linguagem; da pedagogia, o processo de ensino-aprendizagem e ainda da neuropsicologia, os mecanismos cerebrais.
Para sintetizar nosso pensamento:

[…] falar sobre psicopedagogia é, necessariamente, falar sobre a articulação entre educação e psicologia, articulação essa que desafia estudiosos e práticos dessas duas áreas. Embora quase sempre presente no relato de inúmeros trabalhos científicos que tratam principalmente dos problemas ligados à aprendizagem, o termo psicopedagogia não consegue adquirir clareza na sua dimensão conceitual. (NEVES,1992, p.10 apud BOSSA,1994 p.2007)

Historicamente, nasce para estudar as patologias da aprendizagem, pois acreditava-se que esta se devia a inadequação do sujeito, ao processo educativo, e, para atender a demanda da dificuldade de aprendizagem, segundo BOSSA (1994); para estudar a atividade psíquica da criança e os princípios para regular a ação educativa , em FERREIRA (1982); e como destacamos, para se investigar como se aprende, como o processo de aprendizagem varia evolutivamente e quais os fatores que a condiciona, enfim, como MULLER resume nas questões a seguir: como e porque se produz alterações na aprendizagem; como reconhece-las, trata-las, como preveni-las e promover tal processo.

Dentre as suas práticas destacamos: a prática clínica, onde serão sempre ressaltadas como objetivos a construção do conhecimento e suas dificuldades.

A prática positiva, onde o objetivo já busca uma facilitação da construção do conhecimento.

Sendo esse “dividido” em dois grupos: os de padrões evolutivos normais e os de padrões patológicos, além de considerarmos sempre a influência do meio sobre esse processo. Ou melhor, a aprendizagem em todas as suas formas. Enfim, partimos do pressuposto de que a aprendizagem, pode ser definida como um processo onde se dá a incorporações de informações, e desenvolvimento de experiência que resultam em uma modificação de comportamento, de personalidade diante do real.

Atuando preventivamente, a psicopedagogia, detectas possíveis perturbações no processo dinâmico da aprendizagem, participando da dinâmica nas relações entre a comunidade educativa para favorecer integração e troca entre as partes, orientando metodologicamente as relações de acordo com suas características, seja do grupo como as do indivíduo. Assim, realiza uma orientação educativa, vocacional e ocupacional, para o indivíduo e para o grupo.

Para tal atuação precisa ir a princípio a psicologia ou epistemologia genética, com base nos estudos de Piaget e Vygotsky. Em Piaget, encontramos respostas as questões como: de que forma a criança estrutura o seu pensamento lógico; quais os procedimentos que esta põe em suas ações respostas que encontramos em seus livros como: “Surgimento do pensamento da criança (1936) e A construção do real da criança (1937)”, de onde destacamos o pensamento de que: “A inteligência é a forma tomada pela adaptação biológica no nível da espécie”. Tal pensamento nos adverte para importância de se verificar como se constitui a primeira forma adotada pela inteligência da criança, que para Piaget, é a sensório-motora, onde a inteligência se forma ainda sem o pensamento, sem representação e sem linguagem, vem da sua adaptação ao meio, da interação entre sujeito e meio ambiente, chegando a máxima de que todo conhecimento vem dessa interação, por meio da observação e experimentação. “A epistemologia genética de Piaget, seria a história da organização progressiva e sucessiva das estruturas da atividade e de sua construção, na e por meio da, interação entre sujeito e objeto.”(FIGUEIREDO, 2000 apud NEVES, 2011) Para ele podemos perceber estágios de inteligência: O estado da inteligência sensório-motora, que estaria presente nas crianças de até 2 anos; o estado das operações concretas presente nas crianças de 2 até 12 anos de idade, sendo que dos 2 aos 7 seria uma inteligência simbólica ou pré-operatória e dos 7 aos 12 anos a inteligência operatória concreta ou das operações concretas: e finalmente o estado da inteligência operatório formal, atribuída a crianças e ou melhor adolescentes de 12 a 16 anos.

Complementando esses conhecimentos encontramos Vygotsky, que estudou a relação entre pensamento e linguagem, centralizando sua questão não mais em mecanismos internos, mas sobretudo na interação da criança com o seu meio. Atribuía a formação da sua psique a mediação e internalização feita pela cultura. Pensamento, memória, percepção e atuação, são funções mentais e o conhecimento se constitui a partir das relações intra e interpessoais. É nas trocas interpessoais que vão se internalizando os conhecimentos, papeis e funções sociais, sendo a linguagem o canal mediador entre o indivíduo e o conhecimento. Assim, o desenvolvimento humano, é resultado da relação dialética do homem e seu meio sócio-histórico cultural. Devemos, portanto, levar em consideração o desenvolvimento potencial da criança, ou melhor, sua capacidade de desempenhar tarefas com a ajuda desde outras pessoas mais capazes. Sendo assim, a zona de desenvolvimento potencial (ZDP) pode ser definida como a distância entre o desenvolvimento real (onde a criança sozinha soluciona as tarefas) e o desenvolvimento potencial (quando a criança tem a solução da tarefa com o auxílio de um adulto). Para Vygotsky, a criança que apresenta alguma dificuldade deve ser avaliada através de três fatores: os problemas socioculturais; os psicoemocionais e os neurobiológicos.

Chegamos assim, a uma outra área de grande importância para psicopedagogia, a neurobiologia, a ciência que estuda o funcionamento do cérebro. O ato de aprender exige um processo de complexas adaptações do sistema nervoso central às demandas da estimulação ambiental. Para CASELLA, BARBANTE e AMARO JUNIOR (2008), todos os processos de aquisição de informação que chega ao cérebro deve passar por circuitos sensoriais (visão, olfato, tato, paladar…). Esses circuitos absorvem as informações externas e transmitem-nas ao cérebro, onde as áreas mais envolvidas na percepção do mundo externo estão localizadas nesses circuitos sensório-sensitivos que as integram ao sensório-motora cortical. E essa última área, dá sentido à informação recebida e as relacionam com conceitos internos já existentes, como se realizasse um processo assimilação e ancoragem (moscovici).

Para melhor entendimento desse processo, SANTANA (2001) nos leva a área da neuropsicologia, que busca relacionar os processos psicológicos superiores ao funcionamento cerebral, usando assim a neurociência e a psicologia. Para psicopedagogia, a área que se formara é a neuropsicologia cognitiva, onde o objeto não é apenas o funcionamento e a organização do cérebro mais agrega a estes a teoria cognitiva. Dessa forma, articulando segundo OSHSNER e LIEBERMAN (2001), três ordens de fenômenos para sua análise: o social, o cognitivo e o neural.

Outra área de grande valia para o campo da psicopedagogia, é a psicanalise. Até Freud, o homem era considerado racional e consciente, mas Freud apresenta três instancias no homem: o ID (instintos, repressões que são governados pelo prazer); o Superego (normas e exigências sociais) e o Ego (consciente, atende as exigências do Id e do Superego, buscando uma composição aceitável entre os desejos e as exigências sociais), sendo as duas primeiras pertencentes ao inconsciente. Assim como, também podemos destacar nesse campo Jung, com seus conceitos como Self, animus, anima e arquétipos para destacar alguns.

Mas como a psicopedagogia entra na prática educativa no cotidiano escolar. O que proponho nesse trabalho é discutir objetivamente o uso na psicopedagogia na escolar, sobre tudo sua contribuição no campo de metodologia de ensino.

1.2. A psicopedagogia no cotidiano escolar:
1.2.1 – A psicopedagogia

A psicopedagogia, vem do século XIX, buscando resolver aspectos relacionados a dificuldade de aprendizagem, que tinham para época relação direta com fatores orgânicos. Não podemos esquecer, que o século XIX, fora marcado por aspecto do que denominamos ciência moderna, onde o mundo poderia ser entendido por meio da matematização do universo, a busca por leis naturais e universais respaldadas na pesquisa fenomenológica, baseada na observação na experimentação, buscava regularidades no humano também. Sendo assim, o homem único, dotado todos das mesmas capacidades orgânicas, pois a biologia comprovara que todos os homens nascem iguais, porém evoluem de forma diferente. A capacidade de cada um apontava para participação de cada um deve ter no mundo.

O processo educativo, era necessário para se igualar esses homens, dar a todos o mesmo conhecimento, aí nesse momento, o acúmulo de conhecimento da sua espécie. Enfim, como passar para gerações futuras o conhecimento acumulado? Como aperfeiçoar aqueles que nascem na mesma espécie.? O fracasso de uns era atribuído a causas pessoais, e, a capacidade de cada um. Portanto, o fracasso de alguns, vem da ausência de esforço e da capacidade de desenvolver suas potencialidades orgânicas.

Tal relação direta entre a dificuldade de aprendizagem e os fatores orgânicos, persistiram até as décadas de 40 e 60. Contudo, em 1946, o primeiro centro psicopedagógico, surge. No Brasil somente em 1958, surgiu o serviço de orientação psicopedagógico, na antiga capital, o estado da Guanabara, uma escola experimental do INEP (Instituto Nacional pesquisa educacional Anísio Teixeira). Um importante passo nem momento histórico brasileiro onde autores colocam que o Brasil nunca foi tão inteligente.

Até a década de 1970, no Brasil, ainda se explicava o fator aprendizagem como orgânico, denominado como disfunção cerebral mínima (DCM). Nesse momento, surgem os primeiros cursos de psicopedagogia, destinado a psicólogos e educadores. No Rio Grande do Sul, o centro de estudos médicos e psicopedagógicos, com Nilo Fichtner, mais tarde surge na PUC São Paulo, já atuando de maneira preventiva para crianças com dificuldades com objetivo de não as deixar chegar ao estágio clínico, nascia como o objetivo de reeducar.

Na década de 1980, nasce a primeira associação de psicopedagogos em São Paulo e em 1985, a associação brasileira de psicopedagogos, podendo assim, concluir que se inicia a formação de uma nova área de conhecimento, respaldada em um tripé: conhecimento, atuação e formação. Na verdade, com uma mudança de orientação estrutural, um novo discurso surgia. Onde a dificuldade de aprendizagem, não estava obrigatoriamente relacionada a uma necessidade patológica.

Assim, a psicopedagogia, adota uma abordagem transdisciplinar, onde várias disciplinas foram incorporadas a formação do psicopedagogo. Passando a considerar a singularidade de cada sujeito, e os testes de diagnósticos tão valorizados anteriormente, dentro de uma visão tecnicista característica do processo educativo, passam a não serem considerados infalíveis. Resultando assim, hoje em uma ação preventiva, onde se busca compreender a criança com dificuldade de aprendizagem, saindo de uma abordagem reeducativa e se direcionando para uma abordagem relacional.

1.2.2 – A figura do psicopedagogo:

Um profissional que transita em áreas disciplinares distintas, assim, deverá possuir uma formação interdisciplinar. Na verdade, é um profissional que necessita de uma formação multidisciplinar e transdisciplinar, por se tratar de uma área de interação entre várias disciplinas.

Tem como papel, em síntese, ser um agente interventor na solução de problemas de aprendizagem, tanto focando o sujeito como a instituição. MIRANDA (2010), nos alerta para ideia existente por trás do termo “intervenção”, possuidora de vários significados, mas que podemos resumir aqui como estar presente e interpor sua autoridade, como podemos resumir:

Estar presente: não indica necessariamente uma ação, o que leva a pensar em alguém disponível, que aguarda uma solicitação. Estar presente parece indicar uma posição, alguém a quem se pode recorrer e que está inteiro na situação (Silvia ANCONA-LOPEZ, 1995, p.20 apud MIRANDA, 2010)

Em síntese, quando utilizamos o termo intervenção, ou interventor como um papel do psicopedagogo, estamos nos referindo a uma intervenção psicopedagógica, que possuem metas bem definidas para criação de mecanismos que ajudem o aprendiz a mudar a sua realidade, bem como a transformá-lo em um ser humano melhor e mais capaz. (MIRANDA, 2010).

Dentre suas funções: realiza diagnostico e intervém utilizando métodos, instrumentos e técnicas próprias, atuando também na prevenção dos problemas de aprendizagem; na sua formação teórica, desenvolve pesquisa e estudos relacionados ao problema de aprendizagem, além de assessorar trabalhos em espaços institucionais.

Com relação ao diagnostico, comparada por FERNANDEZ (2008) a rede de um equilibrista, ou melhor, aquele que dá apoio ao psicopedagogo, para opção do caminho correto. É um processo que permite ao profissional investigar, levantar hipóteses provisórias baseado em conhecimentos teóricos e práticos.

A regulamentação da profissão, tramita no congresso, para aprovação do projeto 3.124/97 do deputado Barbosa Neto além da criação do Conselho Federal e Conselhos Regionais de Psicopedagogia.

Como vimos a psicopedagogia, aparece tendo como objeto de estudo o processo de aprendizagem, que hoje a partir da teoria da epistemologia convergente de Jorge VISCA (1987), assume ser a aprendizagem resultante de um processo multifacetado, que tem como objeto de seu estudo o sujeito cognoscente, e, por isso, possui uma natureza multidisciplinar. Na psicopedagogia, a aprendizagem resulta de um equilíbrio entre o corpo, as relações e a afetividade, e o psicopedagogo pode detectar situações que podem intervir negativamente nesse processo de aprendizagem, identificando obstáculos e como se supera cada um deles. Trazendo dessa forma, para o bojo das questões que envolvem tal processo, não só o aluno e professores, mas também suas famílias e sua realidade sociocultural, vendo a inteligência como uma construção.

E assim, a figura de um psicopedagogo no cotidiano escolar é de grande importância, a partir de diagnósticos qualitativo e quantitativo, possibilita um ação preventiva e terapêutica, intervindo nesse cotidiano, a partir de orientações educacional, vocacionais e ocupacionais, tanto em grupo como individual, proporciona uma compreensão das necessidades e características de aprendizagem de um determinado aluno, ou um grupo, ou uma turma, série etc. Podendo a partir da sua intervenção contribuir para o processo de aprendizagem com sua análise e reformulação de práticas educativas. Consideramos que tais intervenções podem estar relacionadas com a identificação das patologias da aprendizagem, onde o psicopedagogo, a partir de um diagnóstico, poderá chegar a propostas de adaptações de grande porte, ou, significativas, como: planejamento escolar, projeto político pedagógico, adaptações de acesso ao currículo, mobiliário, equipamento … ou, de pequeno porte, onde o trabalho docente está relacionado diretamente (metodologia, seleção e priorização de conteúdo, ou de avaliação), ou ainda, podendo chegar ao PEI (Programa Educacional Individualizado). É tarefa do psicopedagogo dentro da Escola, chegar ao diagnóstico diferencial, onde transtornos de aprendizagem podem ser ultrapassados. Para MIRANDA (2010), o psicopedagogo é indispensável, para promover ao aluno, e também a escola mudanças “significativas de aprendizagem”.

Frente a uma situação – problema, ele atuaria partindo de uma investigação sobre a vida escolar e familiar do estudante; através do diálogo com os pais, com os professores e também com o próprio aluno, tentando visualizar o problema existente (…)através de material pedagógico, entrevistas, provas projetivas (desenhos) etc…, para que suas dificuldades de aprendizagem sejam sanadas e que ele tenha melhores resultados no futuro.

Buscando também a melhoria na relação aluno/professor/funcionário, ele ajudaria, auxiliando assim estes, no surgimento de conflitos existentes; na interação com o outro; na elaboração de planos de aula (na qual os professores poderiam fazê-los, de forma mais dinâmica, para que os alunos pudessem entender melhor as aulas); nos projetos da escola, que fossem mais voltados para a realidade da comunidade escolar. (MIRANDA, 2010)

Ainda sobre a atuação do psicopedagogo na instituição escola, podemos destacar o que nos afirma BOSSA:

No primeiro nível o psicopedagogo atua nos processos educativos com o objetivo de diminuir a “frequência dos problemas de aprendizagem”. Seu trabalho incide nas questões didático-metodológicas, bem como na formação e orientação de professores, além de fazer aconselhamento aos pais. No segundo nível o objetivo é diminuir e tratar dos problemas de aprendizagens já instalados. Para tanto cria-se plano diagnóstico da realidade institucional, e elaboram-se planos de intervenção baseados nesses diagnósticos a partir do qual se procura avaliar os currículos com os professores, para que não se repitam tais transtornos. No terceiro nível o objetivo é eliminar transtornos já instalados em um procedimento clínico com todas as suas implicações. O caráter preventivo permanece aí, uma vez que ao eliminarmos um transtorno, estamos prevenindo o aparecimento de outros. (BOSSA, 2007, p. 25)

MIRANDA (2010) nos leva a uma reflexão importante e pertinente, quando ressalta que o papel do psicopedagogo, é de “suma Importância” pois aparece como um “solucionador” para problemas de conduta e de aprendizagem, mas que não deve ser visto pela instituição, como uma ameaça, como um apontador de erros. Mas até que ponto, podemos saber se esse profissional é visto dessa forma? Essa é uma das questões que pretendemos responder a partir desse trabalho.

2. Análise dos resultados

2.1: Nossos dados:

Os dados coletados por meio de entrevistas semiestruturadas, onde o texto pertence ao próprio sujeito entrevistado, foram analisadas através da técnica de análise de discurso, apoiada teoricamente por MAINGUENEAU (1989), utilizou-se de três campos de análise: o discursivo, o frasal e o lexical. Consequentemente como já havíamos afirmados trabalhamos com sujeitos genéricos (SPINK, apud GUARESCHI, 1994), aqueles que devidamente contextualizados, têm o poder de representar o grupo no indivíduo.

Nossos sujeitos ou entrevistados, são professores que atuam ou atuaram no ensino médio e/ou ensino superior, são professores com no mínimo um título de especialista. Tais sujeitos em sua maioria são doutores que atuam em escolas ou universidades públicas, mas que obrigatoriamente possuem larga experiência em Educação Básica.

Tais sujeitos foram escolhidos por representar professores que possuem uma formação acadêmica de qualidade, por atuarem em rede pública, apesar de muitos atuarem também no setor privado, e, principalmente por serem considerados professores atuantes e atualizados na área de ensino. Dessa forma, por meio desse grupo podemos verificar o real conhecimento dos docentes sobre a psicopedagogia e a atuação de seu profissional, no cotidiano escolar ou mesmo na instituição escola.

Para a análise seguimos os seguintes passos:

  1. Foi feita uma leitura do material, resultando na primeira análise no plano discursivo, onde percebemos o destaque e a construção da retórica do discurso. Nessa etapa podemos perceber alguns elementos afetivos como: reações positivas ou negativas, valorização de alguns temas em detrimento de outros, esperanças ou desilusões.
  2. Mapeamos os discursos utilizando temas centrais delimitados por nós devido ao interesse da pesquisa, a saber: psicopedagogia, psicopedagogo, cotidiano escolar e processo de aprendizagem. Permitindo-nos compreender o entendimento dos diferentes sujeitos sobre a psicopedagogia, psicopedagogo e esse profissional dentro da escola.
  3. Buscamos localizar nas respostas frases que representam ideias comuns aos professores.
  4. Por fim, por meio de uma análise lexical buscamos mapear palavras que teriam representatividade nas diferentes respostas.

Com tal análise podemos adquiri subsídios para discutir expectativas, papéis, condutas e relações presentes em nossos sujeitos e em nosso objeto de pesquisa, a psicopedagogia, ou melhor, o psicopedagogo.

Como já havíamos exaltado todos os nossos professores possuíam uma larga experiência no magistério, foram privilegiados professores do setor público (municipal, estadual e federal), da educação básica apesar de muitos também atuarem na área de formação de professores no ensino superior. Optamos por esses sujeitos por possuírem mais de 10 anos de magistério e de atuarem em diferentes níveis de educação.

2.2 Análise de dados:

Esse trabalho girou em torno de uma problemática: como esse psicopedagogo é visto pelo professor regente, como esse professor lida com a figura desse profissional dentro da escola, atuando no cotidiano escolar. Portanto, objetivamos saber se esse professor, conhece o papel, as atribuições e a formação desse profissional. Escolhemos como grupo de entrevistados, professores, da rede pública de ensino, a sua maioria com formação e especialização, mestrado e doutorado em sua área. Vimos dentro da literatura da área que se discute e já possui um número representativo de artigos onde o papel do psicopedagogo, suas atribuições, funções, importância etc. dentro da instituição escola, vem sendo discutida, mas sentimos falta de pesquisas de campo onde o psicopedagogo se encontre dentro do espaço escolar e o que docentes e discentes veem-se esse profissional.

Encontramos em nossa pesquisa um projeto de lei (2660/2013)

da autoria de Carlos Moutinho, levada a comissão constituição e Justiça Educação Servidores Públicos Orçamento Finanças Fiscalização Financeira e Controle
que torna obrigatório a presença de um psicopedagogo nas escolas estaduais que tramitou até o dia 10/04/2014, sendo arquivada conforme informação do site da ALERJ

http://alerjln1.alerj.rj.gov.br/scpro1115.nsf/0c5bf5cde95601f903256caa0023131b/f2073ffcb279355883257c30004d1155?OpenDocument&Highlight=0,psicopedagogia acesso em 21/01/2019
. Ressaltamos que a Secretaria Estadual de Educação (SEEDUC) oferece convênio para seus servidores em universidade para especialização em Psicopedagogia Clínica e Institucional

Notícia publicada no site da SEEDUC-RJ em 04/09/2015 – 08:52h – Atualizado em 04/09/2015 – 08:52h disponível em http://www.rj.gov.br/web/seeduc/exibeconteudo?article-id=2562188 acesso em 29/01/2019.
, contudo não encontramos nenhum concurso público que contemple a contratação pela secretaria de psicopedagogos, no setor escolar. Em uma rápida pesquisa verificamos que de 2017 a 2019, apenas o município de Nova Friburgo ofereceu em concurso pública 1 vaga para psicopedagogo na secretaria de saúde.

Vimos como resultado da pesquisa junto aos professores, que apensas no ensino público estadual, representado pelo Colégio CAp /UERJ, a referência de que “existiu”, a figura do psicopedagogo como cargo efetivo, concursado, para atendimento de todos os alunos. De forma, coerente, aparece como um profissional que atuava diretamente com o corpo docente e discente, intervindo no processo de aprendizagem de forma efetiva. A escola onde leciono há 35 anos, o Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira, CAp/UERJ, possuiu durante muito tempo este serviço, com profissionais concursados. Infelizmente, isso se perdeu com o tempo(…) (Prof.X). Contudo, vimos esse profissional desaparecer e dar espaço a profissionais que atendem hoje somente a alunos com necessidades especiais.

Porém, mesmo com a não obrigatoriedade, da presença do psicopedagogo na equipe pedagógica da escola, os professores pesquisados, mesmo os que declaram não ter atuado com esse profissional, demonstram um certo conhecimento e expectativa da presença e atuação do mesmo como podemos verificar nos trechos destacados abaixo:

Conheço um pouco. Trabalhei em uma escola que a psicopedagogia era muito valorizada e os psicopedagogos trabalhavam muito próximo dos professores. Entendo que suas atribuições dizem respeito aos processos de aprendizagem dos alunos, e sua relação com o cotidiano escolar e com as famílias. Lidam com alunos que apresentam problemas tais como: TDAH, dislexia, síndrome de Asperger, autismo, etc. Mas também trabalham com alunos que não apresentam problemas cognitivos servindo como mediadores entre a família e a escola. (Prof. R)

Conheço superficialmente. Entendo que seja o especialista no diagnóstico dos problemas relativos à aprendizagem e em definir estratégias que otimizem o estudo e a aprendizagem dos alunos. (Prof.W)

Conheço várias profissionais nessa área e conheço um pouco as suas atribuições. (Prof.Y)

Sim, conheço. Pelo que entendo das atribuições de um psicopedagogo, elas se referem às condições mentais que levam ao aprendizado. Um psicopedagogo proporciona ao desenvolvimento mental de alguém para que essa pessoa aprenda algo. (Prof. Z)

Verificarmos, que no nosso universo, na rede municipal do Rio de Janeiro, encontramos a ausência desse profissional, como cargo efetivo, também na rede federal, ora representada pelo Colégio Pedro II. No Colégio Pedro II, apesar de possuir em serviço de atendimento pedagógico, representada pelo SESOP

Seção e os Setores de Supervisão e Orientação Pedagógica têm como atribuição participar do planejamento, desenvolvimento e avaliação do processo ensino-aprendizagem em conjunto com as Coordenações Pedagógicas, Chefias de Departamento, Direções-gerais e o NAPNE, considerando os aspectos pedagógicos, sociológicos, psicológicos, sensoriais e culturais, por meio do acompanhamento da vida escolar do estudante, da orientação educacional e da supervisão das atividades de ensino.
, seção localizada na Pró-reitora de Ensino (PROEN), conta com profissionais que possuem a formação, porém, o cargo é inexistente. Como podemos verificar na fala do professor Y:

Conheço várias profissionais nessa área e conheço um pouco as suas atribuições.
No Colégio Pedro II não há a função de psicopedagogo, mas há servidores que trabalham no Sesop e no Pedrinho que têm essa formação.
Não tivemos uma aplicação prática dessa função no CPII, mas já trabalhei em Colégios particulares em que havia essa função e essa profissional e o trabalho foi muito profícuo.

Essa fala é reafirmada por outro professor, aqui denominado professor A que afirma nunca ter conhecimento dessa função, ou cargo dentro do Colégio Pedro II e ainda afirma não saber ao certo quais as atribuições de um psicopedagogo dentro da escola.

Mas, quando indagado de que forma esse profissional poderia ser de valia no cotidiano escolar, respondeu: Bom, no acompanhamento a situações indicadas por professores em sala de aula, relacionados a dificuldades intelectivas, de sociabilização, interação, etc.
A inexistência do cargo e da presença “oficial” do psicopedagogo nas redes públicas de ensino, não é desconhecida pelos professores. Todos reconhecem a importância do profissional, alguns já possuíam experiência de trabalho em conjunto com ele em espaços de escolas particulares, como detalhamos acima. Os que já trabalharam com esse profissional, ressaltam a importância do trabalho conjunto entre ele e o corpo docente, como podemos observar na fala da professora X, do Colégio CAp-UERJ, destacamos:

A escola onde leciono há 35 anos, o Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira, CAp/UERJ, possuiu durante muito tempo este serviço, com profissionais concursados. Infelizmente, isso se perdeu com o tempo. Hoje, temos, apenas, profissionais que são especialistas em alunos com necessidades especiais. Antes, todos os alunos tinham este atendimento. Todo problema pedagógico indicado pelo professor regente era analisado pelos psicopedagogos para verificarem se havia alguma razão psicológica para tal, fosse de aproveitamento cognitivo ou comportamental.

Também encontramos a fala de ganho pedagógico com a Prof. R:

Sim. Foi muito positivo. Em muitos momentos a atuação do psicopedagogo me ajudou a ajustar rotas de trabalho e mudar a abordagem com os alunos. Entender a turma na sua coletividade, mas também atender as necessidades especiais de determinados alunos.

Quando indagados sobre a expectativa existência de um trabalho conjunto, vimos que em sua maioria percebem a importância dessa profissional. O que nos revela uma atitude positiva do corpo docente em relação a presença desse profissional na escola. Como podemos ler abaixo:

São de grande utilidade e importância. Poderiam nos ajudar muito no trato com os alunos e no desenvolvimento das nossas estratégicas pedagógicas, sua atuação nos Conselhos de Classe seria sempre muito bem-vinda e sua atuação cotidiana serviria para humanizar ainda mais o nosso ambiente de trabalho. (Prof.Y)

Acho muito importante a atuação deste profissional junto ao corpo docente. Acho que as escolas devem proporcionar/garantir momentos de reunião conjunta destes profissionais com os professores ao longo de todo ano. Reuniões por série com todos os professores e psicopedagogo poderiam ajudar a reconduzir alguns objetivos do nosso trabalho em sala de aula. (Prof. R)

Os professores, mesmo ainda não tendo experiência com trabalho conjunto, ressaltam a importância desse profissional no ambiente escolar, ou defendem que seja um campo trazido para dentro das escolas com o intuito de melhor a atuação docente:

O corpo docente poderia receber, regularmente, algum tipo de capacitação ligada à área de psicopedagogia para empregar novas técnicas e novas metodologias de ensino na educação básica. (Prof. Z)

Bom, no acompanhamento a situações indicadas por professores em sala de aula, relacionados a dificuldades intelectivas, de sociabilização, interação, etc. (…)? Bom, entendo que deveria existir um canal de comunicação constante entre os profissionais. (Prof.A)

Verificamos entre as falas que em alguns casos, o trabalho do psicopedagogo não foi de sucesso, e, percebemos que tal fracasso, pode ser compreendido pela ausência de um projeto conjunto com o professor, nesses casos de fracasso junto a escola, o psicopedagogo atuou como um profissional isolado, sem buscar apoio ou apoiar o professor regente, chegou como “aquele que resolve o problema”. O professor W, relata uma experiência de fracasso, como vimos na sua fala:

(…)Compreendi perfeitamente. Pelo contrário, me trouxe muitos problemas. Não participei de qualquer projeto conjunto. Isso ocorreu há muito tempo.

Hoje, na instituição em que trabalho, profissionais de Psicologia desempenham esse papel.

Contudo, ressaltamos, que o fracasso dessa experiência, pode ser compreendida por meio da fala do próprio professor, que afirma conhecer superficialmente as atribuições do psicopedagogo:

Conheço superficialmente. Entendo que seja o especialista no diagnóstico dos problemas relativos à aprendizagem e em definir estratégias que otimizem o estudo e a aprendizagem dos alunos.

E, pela sua fala vimos que o fracasso da experiência com esse profissional, vem do péssimo desempenho profissional

Fala do professor W, com relação ao psicopedagogo e sua participação na escola.
. Mas, quando perguntado se esse profissional poderia auxiliar em projetos conjuntos sua resposta aponta sua importância:

Considero que caiba a esse profissional, através de entrevistas e da análise das fichas dos alunos, chamá-los e propor estratégias que lhes ajudem na organização do estudo, na elaboração de um horário semanal para as atividades de casa e na orientação dos professores para que eles tomem conhecimento das dificuldades e de algumas estratégias a serem usadas durante as aulas.

Portanto, ficou claro que a experiência negativa relatada foi definida pela qualidade do profissional e não pelas suas atribuições. Ficou claro que a ausência de um trabalho conjunto com o professor, leva ao insucesso da presença do psicopedagogo na escola. Pois detectamos que esse trabalho em conjunto ou parceria, seria a maior expectativa dos professores em relação a presença desse profissional.

Quando partimos para uma análise lexical, buscamos por itens que nos parece bem representativos quando presentes. Como podemos demonstrar em tabela. Buscamos por: aprendizagem ou aprendizado; organização; aluno; professor(a); estratégia ou estratégica; importante; conjunto; parceria; comunicação; diagnóstico; conteúdo; aula; didático; metodologia ou metodológica; cognitivo ou cognição; inteligência e dificuldade. As palavras mais frequentes no discurso dos professores, são: aluno(s); professor(es); estratégia(S); aprendizagem(do); aula(s) e conjunta. A presença maior desses itens nos remete a verificar que as práticas do psicopedagogo deveriam ter alguns pontos ressaltados: estar focada no aluno, na sua aprendizagem e nas estratégicas do professor para suas aulas. A ausência da palavra dificuldade nos diz que para os professores, as ações não devem esperar as dificuldades para ocorrerem. E, quanto ao viés do trabalho, as palavras: cognitivo (cognição) e comportamento (comportamental), aparecem em igual número. Nos apontando que o trabalho para os professores deve levar em conta tanto o aspecto cognitivo, como o comportamental.

Tais resultados nos leva a verificar que mesmo os professores que afirmam conhecer as atribuições do psicopedagogo ou da psicopedagogia, ainda pouco conhecem sobre o tema, a palavra diagnóstico ou diagnosticar, aparecem uma única vez, demonstrando a ausência de familiaridade, dos professores, com tal termo, nos sugerindo que os mesmos não relacionam tal ação a função do psicopedagogo diretamente.

Mas que a sua presença não seria uma ameaça, pois percebemos uma acolhida desse profissional no cotidiano escolar. E, que um longo caminha ainda deve ser percorrido para que os dois possam trabalhar em conjunto.

CONCLUSÃO:

Desejamos de início deixar claro que não foi a intensão desse pequeno estudo esgotar a temática e nem generalizar esses resultados para todo o Brasil, deixamos claro que tais resultados estão limitados ao universo do município do Rio de Janeiro, onde já expomos que o cargo ou função de psicopedagogo, não conta com nenhum tipo de obrigatoriedade nas instituições de ensino do setor público. O que dificulta um conhecimento generalizado das funções e atribuições de um psicopedagogo na escola e de sua participação no cotidiano escolar. Mesmo assim, vimos pelo discurso dos professores que em sua maioria tem alguma ideia do que representaria um psicopedagogo na escola, e algum conhecimento de suas possibilidades de ação. Ressaltamos que nos preocupamos pelo fato de que os sujeitos entrevistados serem professores com larga experiência de sala de aula e que possuem um nível de especialização acima da média dos profissionais da educação básica.

Vimos por meio da análise de nossos dados que ainda temos um longo caminho para que a figura do psicopedagogo e da psicopedagogia ganhar destaque no ambiente escolar, como já ressaltamos, estamos trabalhando com o setor público prioritariamente, apesar de alguns profissionais entrevistados também atuarem no setor privado. Os que atuaram no setor privado, com boa ou má experiência, já tiveram a possibilidade de desenvolver algum tipo de trabalho com um psicopedagogo.

Não vimos nenhum tipo de entrave ou recusa a presença do psicopedagogo na escola, mas sempre foi ressaltado a necessidade desse profissional estar em contato direto com o professor que está em sala de aula. Também não vimos na análise do discurso dos professores qualquer tipo de preconceito com relação ao profissional da psicopedagogia, ao contrário quase a totalidade dos entrevistados veem a presença desse profissional como um grande ganho para alunos, professores, enfim, para toda comunidade escolar.

Ficou claro na pesquisa que o foco do psicopedagogo na escola deve estar centrado no aluno, e que por isso é importante que esse profissional mantenha uma comunicação contínua com o professor. Além, de que, para esses professores, a aprendizagem, está relacionada com o cognitivo, comportamental e social.

Enfim, para nós foi evidenciado que a escola, é um espaço, onde temos portas abertas, contudo, devemos a partir de uma boa formação teórica e de uma prática desenvolvida em conjunto com seus atores, buscar sempre desenvolver atividades que possibilitem uma maior integração com os professores e alunos, com objetivo de chegar a novas estratégias pedagógicas, e também, uma maior humanização do processo educativo. Finalmente, tornar cada vez mais prazeroso todo processo de aprendizagem.

Referências Bibliográficas

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  • BOSSA A., Nádia A. Fundamentos da Psicopedagogia. In: ______A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. p. 19-32.
  • CRUVINEL, Alice. A necessidade de um psicopedagogo a escola. Cadernos da FUNCAMP, v.13, n.19, p. 95-105/2014 Disponível:  http://www.fucamp.edu.br/editora/index.php/cadernos/article/viewFile/393/332. Acesso em 20/01/2019
  • FERNÁNDEZ, AliciaA inteligência aprisionada:  abordagem psicopedagógica clínica da criança e de sua família. 2 ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991.
  • GUARESCHI, PEDRINHO. (Org.). Textos em Representações Sociais. Petrópolis: Vozes, 1995
  • KIGUEL, S. M. A Abordagem psicopedagógica da aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991.
  • MANGUENEAU, D. Novas tendências em análise de discurso. Campinas: UNICAMP, 1989.
  • MIRANDA, Maria Augusta Mota. A importância do Psicopedagogo na Instituição Escolar. Disponível: http://psicopedagogiat6unifev.blogspot.com/2010/11/importancia-do-psicopedagogo-na.html acesso em 26/01/2019.
  • NUNES, Ana I. SILVEIRA, Rosemary. Psicologia da Aprendizagem: processos, teorias e contextos. Brasília: Liber livro. 2011. Cap.4. 
  • RUBINSTEIN.E. Da reeducação para psicopedagogia: um caminhar In RUBINSTEIN, Edith R.(org.). Psicopedagogia, uma prática, diferentes estilos. 2. ed.; São Paulo: Casa do Psicolólogo,2012 p.15-35
  • SCHNEIDER, Letícia: BLASZKO, Caroline. A atuação do psicopedagogo no contexto escolar: estudo pautado pelas vozes dos profissionais. Disponível em: http://educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2017/25923_14088.pdf acesso/; 22/01/2019
  • SILVA DA, Kátia Cilene. Introdução à Psicopedagogia. Curitiba: Intersaberes, 2012.
  • SILVA, Maria Cecília. Psicopedagogia: em busca de uma fundamentação teórica. São Paulo: Paz e Terra, 2011.
  • SISTO, Fermino Fernandes; OLIVEIRA, Gislene de Campos (Orgs). Atuação psicopedagógica e aprendizagem escolar. Petrópolis, RJ: Vozes 1996.
  • VISCA, J. Clínica psicopedagógica: a Epistemologia Convergente. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987.
  • WEISS, Maria Lúcia. Reflexões sobre a psicopedagogia na escola. Revista da Associação Brasileira de psicopedagogia. Vol. 10 nº 21, p.6-9. 1991
Anexo A:
Pessoal, preciso da ajuda de vocês para um trabalho no campo da psicopedagogia. Espero que você possa me ajudar respondendo essas perguntas:

  1. Professor, você conhece a área da psicopedagogia? Sabe as atribuições de um psicopedagogo?
  2. Em seu espaço de atuação, já esteve em contato como algum profissional da área?
  3. Caso positivo, você compreendeu sua atuação? Foi de alguma valia no seu cotidiano escolar? Já participou de algum projeto em conjunto com esse profissional?
  4. Caso negativo, se na sua instituição não existe um profissional dessa área, você poderia expor algumas áreas que sua atuação seria válida?
  5. E por fim existe de sua parte alguma ideia de como esse profissional poderia atuar juntamente com o corpo docente para melhor atender as demandas discente em seu processo de aprendizagem?

 

Anexo B:

Tabela de análise Lexical

Palavras

 Contagem frequência

Aluno

12

Aula(s)

3

Didática(o)

1

Método/metodologia

1

Cognitivo/cognição

2

Dificuldade

2

Positivo

1

Socialização

1

Reunião

1

Parceria

-

Organização

1

Estratégia

3

Conjunto

1

Comunicação

1

Diagnóstico

1

Comportamento/comportamental

2

Negativo

-

Professor

6

Aprendizado/aprendizagem

4

MINICURRÍCULO DO AUTOR

Pós-graduada em Psicopedagogia clínica e institucional da Universidade Estácio de Sá. Profª Titular de História do Colégio Pedro II. Doutora em Comunicação e Cultura pela UFRJ. Mestre em Educação pela UERJ. E-mail: marciapintobm@gmail.com

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