A percepção dos profissionais da educação acerca da política nacional de educação especial na perspectiva da educação inclusiva

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Raissa Lustosa E Silva Nery, Camila Siqueira Cronemberger Freitas

Resumo

A partir de novos paradigmas surgidos dentro da educação, em 2008, surge a Política Nacional de Educação na Perspectiva da Educação Inclusiva com o intuito de tornar legítima a acessibilidade da pessoa com necessidades educacionais especiais à escola regular, promovendo o direito à educação para todos, enfocando a grande discussão nos dias atuais dentro das escolas. Partindo desse pressuposto, propôs-se, para essa pesquisa investigar a percepção dos Profissionais da Educação acerca da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva dentro das instituições de ensino regular. Para a coleta de dados foi utilizado o método qualitativo onde foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com 16 profissionais da educação, que atuam em escolas regulares na cidade de Teresina, PI. Constatou-se que a concepção dos profissionais participantes acerca da Educação Inclusiva está relacionada à educação inclusiva como acolhimento das pessoas com necessidades e como direito garantido por lei; os profissionais conhecem pouco sobre a nova Política relacionando-a ao Atendimento Educacional Especializado e ressaltam a ausência de apoio do governo às Escolas. Conclui-se, portanto, que há ausência de capacitação do professor e da equipe pedagógica que os prepare para lidar com alunos que necessitem de uma educação inclusiva e de qualidade.

Palavras-chave

Educação Inclusiva, Profissionais da Educação, Política de Educação.

Abstract

From new paradigms emerged within education, in 2008, there is the National Policy on Education in the Perspective of Inclusive Education in order to legitimize the accessibility of the person with special needs to regular schools, promoting the right to education for all, focusing on the big discussion today in our schools. Based on this assumption, it was proposed for this research to investigate the perception of the Professional Education of the National Policy on Special Education in the Perspective of Inclusive Education in institutions of education. For data collection method was used where qualitative interviews were conducted semi-structured interviews with 16 education professionals who work in regular schools in the city of Teresina, PI. It was found that the design of professional participants on Inclusive Education is related to inclusive education as a host of people with needs and rights as guaranteed by law; professionals know little about the new policy relating to the specialized educational services and highlight the absence government support to schools. We conclude therefore that there is lack of teacher training and teaching staff to prepare them to deal with students who need a quality inclusive education.

Keywords

Inclusive Education, Vocational Education, Education Policy.

Introdução

Nos últimos anos, cada vez mais vem sendo estudada dentro da psicologia e pedagogia a importância de uma educação igualitária dentro da sala de aula de escolas regulares. Ao longo do tempo, foram promulgadas leis que legimizam essa afirmativa, do contrário, acabaria sendo uma violação dos direitos humanos a não colaboração dos profissionais da educação ou parte deles. Dessa forma, torna-se, cada vez mais profícua e consensual a questão da educação inclusiva.

A Educação Inclusiva consiste na valorização da diversidade do ser humano, considerando todos os seus aspectos, dentro do contexto escolar. Este novo paradigma em educação ganhou ênfase na Conferencia Mundial de Educação Especial realizada em Salamanca em 1994, na Espanha, onde foi promulgada a inclusão de crianças, jovens e adultos com necessidades especiais nas salas de aulas regulares, passando a ser obrigação da escola se adaptar a trabalhar com a individualidade de cada aluno.

A inclusão traz a proposta de modificar radicalmente tanto o ensino regular, quando o especial e ainda o conceito de integração, prevendo a inclusão de forma integral e sistemática. Com o objetivando de inserir o aluno na escola regular desde o começo da vida, necessitando de haver uma mudança radical na organização do sistema educacional, quebrando principalmente preconceitos e estereótipos.

A intenção de estudar o tema atual configura-se no fato de que atualmente, com a resignificação desse paradigma de “escola para todos”, identifica-se dificuldades dos educadores da rede regular de ensino para lidar com as especificidades de cada aluno, em especial com aquelas pessoas com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento ou altas habilidades nas escolas regulares, já que para isso haveria de existir uma preparação tanto dos profissionais trabalhando em conjunto com uma equipe multidisciplinar, quanto da própria acessibilidade arquitetônica na qual a escola se encontra, dentre outras mudanças.

Desta maneira, com a finalidade de atualizar e propor novas alternativas no cenário educacional, em 2008, o MEC (Ministério da Educação e Cultura), juntamente com a Secretaria de Educação Especial, elaboraram a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva – PNEEPEI com o intuito de legitimizar a acessibilidade da pessoa com necessidades educacionais especiais na escola regular, promovendo o direito à educação, possibilitando o atendimento educacional especializado (AEE), que se configura como um apoio à inclusão.

Considerando as diretrizes da educação inclusiva, evidencia-se a importância da conscientização dos profissionais da educação acerca da PNEEPEI para o efetivo processo de inclusão dos alunos com necessidades educacionais especiais. Dessa maneira, é importante buscar entender a atuação dos profissionais da educação para que haja uma educação igualitária. Dessa maneira, a presente pesquisa apresenta como problema: “Qual a percepção dos profissionais da educação acerca da PNEEPEI?”

Tendo como finalidade orientar a busca pela resposta da problemática, propõe-se o seguinte objetivo geral: “Verificar a percepção dos profissionais de educação acerca da PNEEPEI dentro das instituições de ensino”. E como objetivos específicos: “Identificar junto aos profissionais da rede regular de ensino o conhecimento acerca da PNEEPEI”; “Verificar a atuação do profissional da Educação após o lançamento da PNEEPEI” e “Analisar a importância da conscientização dos profissionais acerca da PNEEPEI”. O trabalho parte da seguinte hipótese: A conscientização acerca da Política Nacional de Ed… influência a atuação dos profissionais da educação em sua prática educativa.

Contudo, a importância de estudar sobre a inclusão é a disseminação de um novo paradigma educacional, fornecer subsídios tanto para os profissionais da educação quanto para os interessados na área, contribuir para os trabalhos e pesquisas nessa temática, além de oferecer informações também para os familiares das pessoas com necessidades educacionais especiais acerca do assunto e dos direitos que todos possuem, valorizando, neste sentido, a importância da Educação Inclusiva.

1. Materiais e Métodos

Para a realização dessa pesquisa, todos os aspectos éticos foram respeitados. Inicialmente, o projeto foi examinado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Faculdade Integral Diferencial – FACID como normatiza a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), que regulamente a pesquisa envolvendo seres humanos, sendo avaliado pelo CEP que tem como papel zelar esse sujeito da pesquisa levando em consideração a sua privacidade, integridade e liberdade dentro dos padrões éticos, posteriormente foi adquirida previamente uma autorização formal junto ao diretor da organização responsável pela viabilização da amostra dessa pesquisa, onde este autorizou o pesquisador a ter acesso à suas dependências e a realizar a pesquisa.

Concluída a pesquisa, a mesma foi avaliada pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Faculdade Integral Diferencial – FACID, sendo aprovada. Posteriormente foi dado início à coleta de dados em sete escolas municipais da cidade de Teresina-Piauí, a pesquisa foi realizada individualmente com cada profissional da educação. Foi informada a cada participante a proposta da pesquisa e em seguida a foi recebido as assinaturas do TCLE (Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – AMPÊNDICE A) autorizando a coleta dos dados e a gravação que em seguida aconteceu.

A presente pesquisa foi desenvolvida sob o enfoque qualitativo, fundamentando-se em uma análise da realidade acerca do tema pesquisado, utilizando-se de métodos e técnicas com a finalidade de compreender o objeto de estudo em seu contexto técnico e social, tendo como método de abordagem o indutivo, que baseia-se na observação atingindo uma generalização empírica do resultado, tratando-se de uma pesquisa de campo exploratória.

A pesquisa foi realizada em escolas municipais da cidade de Teresina, PI. Participaram da pesquisas 16 (dezesseis) profissionais da educação de ambos os sexos atuantes a mais de dois anos na área, sendo 11 (onze) professores; 03 (três) pedagogos de escolas diferentes e 02 (dois) diretores também de escolas diferente, sendo entrevistados na própria instituição de ensino.

Foi realizado apenas um tipo de entrevista. A entrevista foi baseada em um roteiro de questões relacionadas à Política Nacional da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, desta forma, as informações coletadas nas entrevistas foram implicadas na análise de conteúdo, uma vez que foi realizada uma comparação contextual, como aponta Franco (2008). Assim, como prediz a análise de conteúdo, as entrevistas realizadas com os profissionais da educação participantes, destaca-se que suas respostas foram primeiramente transcritas para, em seguida, serem analisadas a partir da proposta de Bardin (1977), que aponta a análise de conteúdo como método capaz de analisar comunicações.

2. Resultados e Discussão

A pesquisa foi realizada em escolas municipais na cidade de Teresina, PI. Obtendo a coleta de dados de 16 (dezesseis) profissionais da educação responderam o questionário com perguntas semi-estruturadas sobre a PNEEPEI.

Segue abaixo Tabela 1 enfatizando o perfil dos participantes da pesquisa, quanto aos aspectos nomes fictícios e profissão.

Tabela 1 – Perfil dos Participantes

Profissionais da Educação Cargo Participantes
01 Diretora 1 Alice
02 Diretora 2 Valentina
03 Pedagoga 1 Henriqueta
04 Pedagoga 2 Yasmin
05 Pedagoga 3 Celine
06 Professora de A.E.E 1 Léa
07 Professora de A.E.E 2 Laissa
08 Professora da sala regular 1 Manuela
09 Professora da sala regular 2 Maria
10 Professora da sala regular 3 Clarissa
11 Professora da sala regular 4 Vanessa
12 Professora da sala regular 5 Melina
13 Professor da sala regular 6 Felipe
14 Professor da sala regular 7 Fernando
15 Professora da sala regular 8 Gabriela
16 Professora da sala regular 9 Anita

A análise das entrevistas foi, então, organizada a partir de 04 (quatro) categorias pré-estabelecidas, na perspectiva da Análise de Conteúdo. Assim, os dados foram devidamente organizados através do que era comum nas falas dos participantes, desta forma, chegando às categorias a seguir, com suas respectivas subcategorias: Concepção acerca da Educação Inclusiva; apresentando as seguintes subcategorias: Educação Inclusiva como Acolhimento as Pessoas com Necessidades Educacionais Especiais e Educação Inclusiva como Direito Garantido por Lei; Conhecimento da Política por parte dos Profissionais da Educação; e Ausência de apoio do Sistema de ensino às Escolas.

3. Concepção Acerca da Educação Inclusiva

A política de Inclusão tem como princípio básico a igualdade de direitos e oportunidades que todos possuem em aprender dentro de um ambiente igualitário, sem discriminação por parte dos profissionais na rede regular de ensino. Independentemente das dificuldades e das diferenças que apresentem, os profissionais devem atuar junto à comunidade, de uma forma interdisciplinar, de maneira que possibilite oferecer aos alunos, respostas educacionais adequadas às suas peculiaridades, no intuito de formar cidadãos e pessoas aptas para a convivência em sociedade (GLAT, 2007).

4. Educação Inclusiva como Acolhimento às Pessoas com Necessidades Educacionais Especiais.

A educação inclusiva vai muito além da própria questão do acolhimento, mostrando-se como uma ação política, pedagógica, social e cultural, tendo como base uma nova educação na qual podemos chamá-la de educação humanizada e interdisciplinar, onde o direito de se tornar um cidadão é um sonho a ser alcançado por todos, dando ênfase à diversidade por meio de um ensino de qualidade e completo.

Conforme a fala de uma das participantes do estudo, a educação inclusiva configura-se como uma educação que propõe o acolhimento, uma vez que não discrimina, como revela abaixo:

Educação Inclusiva é a educação que acolhe todas as pessoas, sem discriminação de sexo, raça, credo, seja ou não portadora de algum tipo de deficiência. (Henriqueta – Pedagoga 01)

Dessa forma, aponta que a educação inclusiva deve ser abrangente a todo e qualquer aluno com deficiência ou que tenha algum outro tipo de necessidade educacional especial.

Analisando um pouco mais a fala da pedagoga entrevistada, a escola deve oferecer acesso e permanência aos alunos em seu meio, já que é a porta de entrada de todos os sujeitos na sociedade, sendo sua função a de garantir uma educação para a cidadania. Dessa forma, não pode haver segregação em seu contexto, devendo ser evidenciada a apreciação dos valores até então esquecidos, tais como a cooperação, o respeito às diferenças e a tolerância desde a infância para que as pessoas cresçam com princípios e valores humanitários formados.

De acordo com a fala de Yasmin, Pedagoga 02, a educação inclusiva também envolve acolhimento, representado em seu relato como um abraço ao aluno com necessidades educacionais especiais. Segundo ela,

Educação Inclusiva consiste em, digamos assim, abraçar um ser com uma deficiência, mas especificamente um aluno, que é sobre o que a gente vai tratar aqui. (Yasmin – Pedagoga 2)

Como ressalta Carneiro (2008), essa nova forma de educar garante a estimulação de todo tipo de interação que possa vir a beneficiar o desenvolvimento do aluno. Havendo modificações e estimulação tanto nos aspectos afetivos, cognitivo, psicomotor e social das crianças em geral, que possuem ou não alguma necessidade educacional especial, possibilitando a elas desenvolvimento satisfatório academicamente, uma vez que interagem em um ambiente inclusivo e que os colegas com desenvolvimento típico ganham conhecimento sobre a deficiência, desenvolvendo valores como a tolerância, além de aprendem a defender e apoiar outras crianças com necessidades educacionais especiais.

A professora Léa, professora da turma de AEE, aponta que a educação inclusiva vai além do acolhimento, que deve, por sua vez, estimular os alunos em suas potencialidades, devendo ser respeitado.

É você saber respeitar aquele outro dentro das suas possibilidades procurando ajudá-lo da melhor maneira possível, enquanto professora, a crescer e se desenvolver dentro de suas limitações. (Léa – Professora da turma de A.E.E 1)

O que faz lembrar quando González (2003) aponta que os professores, mais que formadores de opiniões, devem tanto ampliar as suas formas de atuação, com a finalidade de atender as especificidades de cada aluno para que todos recebam uma aprendizagem de qualidade, quanto também devem estar abertos para essa ressignificação da sua importância e do seu papel dentro das salas de aula, com o objetivo de que a escola se transforme em um espaço aberto, aceitando incondicionalmente todos os alunos, portanto, inclusiva.

5. Educação Inclusiva Como Direito Garantido Por Lei

A Constituição Federal de 1988 mostra em seus objetivos: “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação” (art. 3º, inciso IV). Define ainda, no artigo 205, a educação como sendo um direito de todos, garantindo o pleno desenvolvimento da pessoa, o exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho. No artigo 206, inciso I, estabelece a “igualdade de condições de acesso e permanência na escola”, como um dos princípios para o ensino, e garante como dever do Estado, a oferta do atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede regular de ensino (art. 208), dessa forma implica trabalhar com a diversidade de uma forma interativa.

Com isso, os profissionais da educação entrevistados nesta pesquisa, reconhecem a importância da educação inclusiva de alunos com necessidades educacionais especiais e que a legislação vigente garante o acesso destes alunos nas escolas regulares.

Segundo Clarissa, professora de sala de aula regular:

A Educação Inclusiva consiste na educação voltada para as pessoas com necessidades especiais, hoje obrigatoriamente tendo de estar dentro das escolas regulares. (Clarissa – Professora da sala regular 3)

Assim, como todas as escolas devem receber e ofertar educação de qualidade a toda e qualquer criança, seja ela com necessidades educacionais especiais ou não, esta mesma escola precisa se adaptar para tal função, sendo o professor o principal agente de mudanças.

Acerca disto, outros participantes colocam suas concepções, reveladas abaixo:

É importante saber que está na lei hoje: a criança especial [deve] fazer parte do ensino regular. Fazer parte não no sentido da criança estar o tempo todo só dentro da escola, mas elas estarem de fato fazendo parte desse processo! (Vanessa – Professora da sala regular 4)

O que nós observamos é que a lei esta aí para ser cumprida e mais, deve-se vestir a camisa pra fazer a diferença para essas crianças (…). Quando eu falo de inclusão, é incluir de forma efetiva e não só no papel! (Yasmin – Pedagoga 2)

Nota-se que estes professores compreendem a importância do acesso destes alunos e ampliam seu olhar quando apontam que as escolas devem se envolver no processo educativo e inclusivo, saindo da perspectiva da integração e passando a atuar conforme os preceitos da inclusão. Atualmente, Integração e Inclusão apresentam, dentro da política de inclusão, significados distintos. O conceito de Integração tem sido utilizado na ideia de conduzir as crianças com necessidades especiais para dentro do âmbito escolar, ou seja, integrar seria sinônimo de inserção, enquanto Inclusão pertenceria a questão lógica da expressão escola para todos, onde o ambiente não apenas recebe como também oferece recursos e subsídios para que aquelas pessoas possam aprender, crescer e exercer seus papéis de cidadãos como todas as outras, sem discriminação (STAINBACK, 1999).

Na Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva há a oferta de possíveis caminhos para que a inclusão aconteça de forma efetiva, não que seja significativa a facilitação para que aconteça de fato e com sucesso. A escola precisa estar disposta a trabalhar e estimular a diversidade, o currículo do profissional deve ser amplo, devendo saber lidar com os aspectos cognitivos, afetivos e sociais. Pontua ainda a importância da formação inicial e continuada do professor, sendo esta formação função do governo.

Nos resultados obtidos na pesquisa, observou-se que este aspecto, o da formação, tem sido motivo de constante preocupação por parte de todos os profissionais da educação. É importante ressaltar que a Educação Inclusiva também é de responsabilidade da União. Desta maneira, o governo deve fornecer instrumentos, formações e recursos para que a escola possa trabalhar com a diversidade de uma forma satisfatória, e, por sua vez, é dever da escola realizar uma gestão inclusiva, ter uma articulada relação com a família e com a comunidade, buscando estratégias para uma educação de qualidade e com equidade.

6. Conhecimento da Política por parte dos Profissionais da Educação

Percebe-se que, quanto ao conhecimento da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva Inclusiva, não há concepções por parte da maioria dos profissionais participantes do estudo que indique um possível conhecimento ou informação que subsidiem suas práticas ou seus saberes.

Conforme as falas de alguns participantes:

O lado negativo dessa política é a falta da formação continuada. O governo aciona obrigatoriedade e na hora do vamos ver, não nos fornece formação para atuar junto a essas pessoas com necessidades especiais. (Henriqueta – Pedagoga 1)

Conheço em parte, mas o suficiente para saber que é necessário um auxiliar para o professor de classe para as classes. [O governo] deixa muito a desejar no que se refere a formações e aulas suportes para os profissionais, o máximo que temos aqui é a sala de A.E.E que recebe alunos de ‘n’ escolas e acaba não ajudando muito! (Yasmin – Pedagoga 2 )

Não [conheço] profundamente (…). O que conheço é mais pelo A.E.E e aqui na nossa escola foi solicitada uma salinha de A.E.E mas ainda não fomos contemplados com isso. (Celine – Pedagoga 3)

Diante dos relatos dos profissionais, o AEE está diretamente associado à Política Nacional de Educação Especial, uma vez que é um serviço de atendimento à educação especial que elabora, organiza e identifica recursos pedagógicos proporcionando uma acessibilidade, amenizando ou eliminando barreiras para que haja a participação ativa dos alunos na sala regular, considerando suas necessidades específicas. Sendo importante ressaltar que este ensino é distinto da educação fornecida na sala regular, não podendo ser substitutivo (SEESP/MEC, 2008).

Em geral, os profissionais de educação se queixam da ausência de formação acerca desta Política, o que faz lembrar Carneiro (2008, p. 105) quando frisa que “na realidade nacional, a escola comum conta ainda com muitas limitações no tocante à apropriação de diversidade nas perspectivas teórica e da pluralidade de estoques orientadores das práticas pedagógicas”.

Carneiro (2008) menciona ainda que para que haja uma inclusão satisfatória por parte desses profissionais é importante que haja a diversificação na forma de lecionar, já que não existe uma forma fechada ou uma receita para haja um resultado plausível, sendo preciso atuar mediante a realidade, não se negando a experiências novas, já que a prática se constrói a cada novo aluno.

Se o problema de fato é a falta de formação que o sistema público se ausenta em fornecer, dentro dessa idéia, questiona-se onde se encontra o objetivo essencial da equidade no ensino? De fato, é uma falha no sistema, mas percebe-se também a falha da comodidade.

7. Atuação e conscientização dos Profissionais da Educação após o Lançamento da Política: ausência de apoio do Sistema de Ensino às Escolas.

A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva traz como princípio: assegurar a inclusão escolar de alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, orientando os sistemas de ensino a garantia de acesso ao ensino regular, com participação, aprendizagem e continuidade nos níveis mais elevados de ensino; transversalidade da modalidade de educação especial, desde a educação infantil até a educação superior; oferta do atendimento educacional especializado; formação de professores para o atendimento educacional especializado e para os demais profissionais da educação para a inclusão; participação da família e da comunidade; acessibilidade arquitetônica e articulação intersetorial na implementação das políticas públicas (BRASIL, 2008).

Sendo assim, a educação inclusiva não é tarefa somente da Escola, ela deve caminhar junto com a construção de uma sociedade inclusiva, pois a instituição escolar precisa estar relacionada ao sistema social, político e econômico vigente na sociedade. A educação inclusiva implica na implementação de políticas públicas, na compreensão da inclusão como processo que não se restringe à relação professor-aluno, mas que seja concebido como um princípio de educação para todos e valorização das diferenças, que envolve toda a comunidade escolar.

Percebe-se, conforme a fala de alguns participantes, que se houve mudança na prática desses profissionais, a mudança foi gerada por conta própria, por uma adaptação ao meio que exigia alterações nas formas de atuação, como vemos a seguir:

[…] a partir do momento em que o poder público abre mais a mente para estar se voltando para essa questão, a gente tem que mudar e acompanhar, mas por nossa conta… Não tem como você ficar inerte e essa foi uma das mudanças, a questão do professor buscar conhecimento por conta própria. (Yasmin – Pedagoga 2)

Mudou! A gente sempre tem que estar se atualizando, quando soube que ia ter uma criança com deficiência na minha sala, fui atrás, li e me informei. Apesar de não ter sido suficiente, o que eu pude fazer, eu fiz! (Fernando – Professor da sala regular 7)

Tem que mudar, não é? Porque a gente tem que se adequar ao sistema, a gente tem que receber essas crianças como recebemos as outras. (Valentina – Diretora 2)

A partir destes relatos e da bibliografia estudada, pode-se afirmar que a educação inclusiva é um meio privilegiado para alcançar a inclusão social, algo que não deve ser alheio aos governos e estes devem dedicar formação e os recursos econômicos necessários para estabelecê-la. Mas a inclusão não se refere somente ao âmbito educativo, estando implícita a ideia da inclusão social, a participação no mercado de trabalho competitivo, sendo esta uma das finalidades da inclusão.

Quanto à conscientização acerca da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, pode-se afirmar, a partir dos relatos obtidos na pesquisa, que ela possa existir pela necessidade da informação de como atuar na sala regular, já que esses profissionais já trabalham com a realidade da inclusão diariamente. Segue as falas de alguns participantes:

A conscientização existe, até porque quando há conferencias, ou seminários a respeito, que é muito pouco, você não vê uma vez o auditório que não esteja lotado! Os professores precisam dessa ajuda de como atuar e quando há oportunidade certamente eles aproveitam, é interesse deles… Interesse nosso! (Henriqueta – Pedagoga 2)

Estamos totalmente perdidos! Muito perdidos, confusos, porque a gente sente em relação a isso é justamente a impotência de muitas vezes não sabermos como agir! Conscientização há, mas não há formação para que o profissional se sinta confortável com aquela sala tão diversificada! Confortável no sentido de saber como atuar. (Léa – Professora da turma de A.E.E 1)

Vou além dos profissionais, há a falta de conscientização do governo. É muito cômodo eles jogarem essas crianças na sala regular, chega a ser injusto! Junto com eles deve vir para o profissional, formação e informações, ou seja, o suporte necessário para que isso corra de forma satisfatória! (Manuela – Professora da sala regular 1)

Contudo, é possível observar que existe a necessidade de que a educação seja assumida com mais prioridade política e financeira, incluindo mudanças nas leis educacionais, incorporação de mecanismos democráticos na gestão das escolas, implementação dessa temática em programas de formação inicial e em serviço e existência de mecanismos favorecedores do processo de inclusão. Também se observa que o grande causador da modificação para que a inclusão se transforme em realidade são os profissionais da educação, uma vez que grande parte trabalha por essa causa – com a ação da equipe trabalhando concomitantemente, a inclusão deixaria de ser um problema e passaria a ser uma solução.

Conclusão<h/3>

O presente trabalho avaliou a percepção dos profissionais acerca da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, buscando reunir dados que revelassem a conscientização dos profissionais da educação acerca do tema, favorecendo o estudo sobre a inclusão e ofertando subsídios para os interessados na área e para os demais profissionais e familiares das pessoas com necessidades educacionais especiais.

Assim, os resultados obtidos neste estudo permitiram responder aos objetivos inicialmente propostos. Nesse sentido, foi possível verificar a concepção acerca da Educação Inclusiva dos profissionais da educação, o conhecimento dos profissionais acerca da nova política de educação inclusiva, focando nas suas atuações e conscientização sobre o tema.

Os dados coletados indicaram que a concepção sobre Educação Inclusiva existente é positiva, porém os profissionais da educação, participantes do estudo, afirmaram que o que existe na maior parte das escolas é a integração. Para contrapor e justificar a integração e não a inclusão, grande parte dos participantes desabafa sobre a necessidade de capacitação e formação que o governo deve oferecer. Relata ainda, não saber lidar com a nova realidade da inclusão, uma vez que a criança está presente na sala regular, sendo acolhida por todos, inclusive pelos colegas de classe, mas o conhecimento para atuar e fazer com que ela aprenda, se desenvolva e por conseqüência permaneça na escola é inexistente.

Quando se trata da atuação, após o lançamento da nova política de inclusão, muitos profissionais não sabem discutir sobre a nova política e dizem ter mudado suas atuações no local de trabalho mais pela modificação do sistema e não pelo governo ter ofertado subsídios necessários para que essa mudança seja favorável, fornecendo assim, uma atuação clara e tranqüila, por parte dos profissionais, em uma escola que trabalhe com a inclusão.

Por fim, o estudo mostrou também que os dados destacam a ausência de capacitação do professor e da equipe pedagógica que os prepare para lidar com alunos que necessitem de um atendimento educacional especial, fazendo com que a inclusão seja vista por muitos professores como um problema, reafirmando a necessidade de que os agentes e gestores educacionais sejam consultados e participem ativamente das mudanças e transformações ocorridas no âmbito escolar, lembrando que para haver uma inclusão satisfatória a escola deve aderir a novos conhecimentos acerca do tema reelaborando o ensino curricular, no sentindo de atender a todas as crianças, sendo preciso atuar mediante a realidade, não se negando as experiências novas, já que a prática se constrói a cada novo aluno.

Referências Bibliográficas

  • BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Ed. 70, 1977. 230 p
  • BEYER, Hugo Otto. Inclusão e avaliação na escola: de alunos com necessidades educacionais especiais. 2.ed. Porto Alegre: Mediação, 2005.
  • BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Imprensa Oficial, 1988.
  • BRASIL. Declaração de Salamanca e linha de ação sobre necessidades educativas especiais. Brasília: UNESCO, 1994.
  • CARNEIRO, Moaci Alves. O acesso de alunos com deficiência às escolas e classes comuns: possibilidades e limitações. 2 .ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.
  • GLAT, R. (Org.). Educação inclusiva: cultura e cotidiano escolar. 1 ed. Rio de
    Janeiro: 7Letras, 2007. 210 p.
  • STAINBACK, Susan. Inclusão: um guia para educadores. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.
MINICURRÍCULO DOs AUTORes

RAISSA LUSTOSA E SILVA NERY. Aluna de graduação (10º período) do Curso de Psicologia da Faculdade Integral Diferencial – FACID. email: raissalnery@hotmail.com

CAMILA SIQUEIRA CRONEMBERGER FREITAS. Professora do Curso de Psicologia da FACID, Mestre em Educação Inclusiva.

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