Inteligências Múltiplas – A teoria na prática da educação infantil

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MARTINS, Beatriz Prado

Resumo

O presente estudo teve como interesse investigar a Teoria das Inteligências Múltiplas de Howard Gardner e propor estratégias de ensino que podem contribuir para ampliar as possibilidades de aprendizado desde os primeiros anos escolares, (mais especificamente, para crianças de quatro a seis anos, na Educação Infantil). Gardner elaborou esta teoria para explicar que a inteligência é a habilidade para resolver problemas ou criar produtos valorizados em um ou mais cenários culturais. Sugeriu ainda que não haveria uma única inteligência, mas múltiplas inteligências que só se desenvolvem se valorizadas e estimuladas pelo ambiente. Nos estudos mais recentes, o autor acrescentou novos tipos de inteligências, o que tem motivado outras pesquisas em busca de novas habilidades, porém o foco deste artigo serão as sete primeiras destacadas na teoria. Para que as escolas formem pessoas preparadas para pensar, para raciocinar e resolver problemas, é preciso que o processo educativo seja estimulante, oferecendo um ambiente escolar que estimule o desenvolvimento de todas as inteligências, garantindo uma aprendizagem significativa.

Palavras-chave

Inteligências Múltiplas; Inteligência; Aprendizagem Significativa.

Abstract

The aim of this study is to investigate the Theory of Multiple Intelligences by Howard Gardner and suggest teaching strategies that, through his experience, can contribute to extend the learning possibilities in the kindergarten, specifically for children from four to six years old. Gardner developed the theory that intelligence is the ability to solve problems or create products appreciated in one or more cultural settings. He suggested that people wouldn´t have a unique intelligence but, multiple intelligences that is developed only if valued and encouraged by the environment. The intelligences are: Linguistic, Logical-Mathematical, Musical, Spatial, Physical-Kinesthetic, Interpersonal and Intrapersonal. After further studies, other intelligences were found, and still nowadays, there are researches looking for new skills, but the focus of this article will be only those seven. For schools to prepare people that are able to think, and solve problems, it is essential that the educational process be significant, providing a learning environment that stimulates the development of all intelligences, leading to a significant learning.

Key-Words

Multiple Intelligences; Intelligence; Significant Learning.

1 Introdução

O dicionário Michaelis (2009) define como inteligência:

1 Faculdade de entender, pensar, raciocinar e interpretar; entendimento, intelecto. 2 Compreensão, conhecimento profundo. 3 Filos Princípio espiritual abstrato considerado como a fonte de toda a intelectualidade. 4 Psicol Capacidade de resolver situações novas com rapidez e êxito (medido na execução de tarefas que envolvam apreensão de relações abstratas) e, bem assim, de aprender, para que essas situações possam ser bem resolvidas. 5 Pessoa de grande esfera intelectual.

Porém, essa definição não é suficiente por estar pouco enquadrada para a visão dos estudiosos em educação.

Para melhor entendimento, considera-se pertinente traçar um panorama histórico breve sobre a inteligência.

Povos de culturas tradicionais acreditavam que os mais velhos seriam os mais sábios, adotavam portanto como líderes, as pessoas idosas, chefes de famílias ou clãs.

Os povos tradicionais podem admirar a alfabetização, mas eles geralmente não definem a inteligência em termos de habilidades de ler e escrever. Em vez disso, como revelam os ilhéus de Puluwat e as tribos africanas, uma capacidade de lidar sabiamente com os outros é em geral considerada como um sinal de Inteligência entre as culturas tradicionais. Esse foco faz muito sentido, especialmente porque essas culturas dependem dos esforços de muitas pessoas para assegurar suas necessidades básicas. (GARDNER; KORNHABER; WAKE, 1998, P.20)

A atual sociedade capitalista considera inteligente o indivíduo de rápida compreensão, astuto, sábio, com capacidades mais avançadas na leitura, escrita e cálculos, o que acaba por marginalizar e rotular os que não conseguem tais feitos.

Nas sociedades tradicionais as crianças convivem em um ambiente cheio de oportunidades para aplicar suas habilidades em situações concretas, aprendem valores e habilidades de sua cultura observando o que os mais velhos fazem. Para atender às necessidades básicas de todos é preciso que haja cooperação, portanto inteligente é o indivíduo que consegue assegurá-la.

Vários filósofos gregos questionaram a natureza da inteligência. Aristóteles acreditava que “conhecer o universal também nos faz conhecer o particular, mas conhecer o particular não envolve o universal”. (ARISTÓTELES, apud GARDNER, 1998, p. 47).

Já Descartes, defendia a mente como a fonte de nosso conhecimento mais certo, considerava também que algumas formas de conhecimento eram inatas.
Avançando alguns anos, na virada do século XX, surge o QI (Quociente de Inteligência), criado por Alfred Binet, psicólogo francês, e sua equipe. O QI é determinado através de testes que medem a inteligência como sendo a capacidade intelectual do indivíduo. (GARDNER, 2001)

A inteligência para Binet poderia ser medida por meio de um teste que traria como resultado um número, o QI – Quociente Intelectual. Seguindo este padrão havia 3 classificações: QI alto = pessoa inteligente; QI médio = pessoa medíocre e QI baixo = pessoa burra. Com este teste, porém, eram analisadas apenas as inteligências lógico-matemática e linguística.

Embora Binet tivesse a intenção de ajudar os alunos, estes testes foram utilizados nas décadas de 1920 e 1930 por americanos, alemães, nazistas e soviéticos, que acreditavam que as capacidades intelectuais eram realmente herdadas. Os testes então eram utilizados para rotular, estigmatizar e julgar as limitações dessas pessoas.

Posteriormente, foram realizados estudos demonstrando que os alunos com QI classificado como baixo poderiam melhorar seu desempenho se recebessem ensino adequado e com flexibilidade de tempo para a realização das tarefas.

Segundo Gardner, Kornhaber e Wake (1998), para alguns psicólogos, os testes e as análises estatísticas de seus resultados podem ajudar a esclarecer a organização ou “estrutura” do intelecto, porém outros especialistas, educadores e cientistas argumentam que estes testes não medem a “inteligência”, mas apenas um intervalo estreito e um tanto idiossincrático das capacidades humanas.

Ainda analisando a teoria de Binet, este acreditava que os indivíduos nasciam com determinada “quantidade” de inteligência, que poderia ser medida desde cedo e dificilmente se alteraria com o ambiente ou treinamento.

Gardner (2001) amplia este conceito ao esclarecer que as competências individuais seriam apenas um aspecto da inteligência e esta, na verdade, é flexível, possível de ser construída, e depende muito do meio cultural em que o indivíduo está inserido.

Com esses esclarecimentos, fica comprovado que Binet não estava totalmente correto. A partir desses pressupostos, para elaborar a teoria das inteligências múltiplas, Howard Gardner observou em diversas culturas o modo como as pessoas desenvolviam capacidades essenciais para seu estilo de vida. Com isso, ele percebe que a inteligência na verdade é um trabalho em conjunto de diversas competências do individuo para resolver problemas e produzir resultados, e que os problemas a serem resolvidos podem variar desde teorias científicas a composições musicais para propagandas comerciais de sucesso.

Partindo destes pressupostos, este artigo tem como objetivo investigar a teoria das Inteligências Múltiplas de Howard Gardner e propor estratégias de ensino que, possam contribuir para ampliar as possibilidades de aprendizado nos primeiros anos escolares, mais especificamente a partir do momento que a criança se insere na educação infantil.

2 Teoria Das Inteligências Múltiplas

Até pouco tempo, acreditava-se que as habilidades cognitivas não seriam muito diferenciadas e específicas, no entanto, pesquisas recentes demonstram que o sistema nervoso é altamente diferenciado e tipos de informação diversos são processados por diferentes centros neurais. (GARDNER, 1987)

Foi devido a estas pesquisas que Howard Gardner questionou a tradicional visão da inteligência, sustentando a idéia de que testes de papel e lápis não seriam capazes de medir a inteligência.

Segundo Gama (2010), Gardner define inteligência como a habilidade para resolver problemas ou criar produtos que sejam significativos em um ou mais ambientes culturais. Em sua teoria Gardner sugere que todos os indivíduos possuem habilidades para utilizar todas as inteligências, porém algumas podem ser potencialmente determinadas pelo ambiente cultural no qual o indivíduo está inserido.

Gardner definiu a inteligência como “habilidade para resolver problemas ou criar produtos valorizados em um ou mais cenários culturais”, e quase vinte anos depois ele conceitua inteligência como sendo “um potencial biopsicológico para processar informações que pode ser ativado num cenário cultural para solucionar problemas ou criar produtos que sejam valorizados numa cultura”. (GARDNER, 2001, p.46)

Apesar de haver uma diferença mínima entre os enunciados, ela é de grande importância, pois a cultura é essencial à Teoria das Inteligências Múltiplas. Gardner propõe que (elas) as inteligências sejam potenciais que podem ser desenvolvidos se valorizados pelo ambiente.

Inicialmente foram sete as inteligências definidas por Howard Gardner. São elas: lingüística, lógico-matemática, musical, espacial, físico-cinestésica, interpessoal e intrapessoal.

Atualmente, as inteligências do tipo lingüística e lógico-matemática são as mais valorizadas no ambiente escolar (GARDNER, 2001). Portanto, é de suma importância apresentar algumas características das inteligências definidas pelo autor:

Inteligência Linguística – Esta inteligência manifesta-se através da habilidade com o uso da linguagem em suas diversas formas, apresentando facilidade em convencer, contar histórias, relatar fatos com precisão ou transmitir idéias. Entre as pessoas com inteligência lingüística avançada podemos citar advogados, locutores, escritores e poetas.

Inteligência Lógico-Matemática – É a habilidade para lidar com séries de raciocínios, analisar e resolver problemas com lógica, a sensibilidade para padrões, ordem e sistematização. Matemáticos e cientistas são exemplos de indivíduos que exploram essa inteligência.

Inteligência Musical – Habilidade na composição e apreciação de padrões musicais. Sensibilidade para ritmos, timbres, produção e reprodução de músicas, inserindo neste campo os músicos e compositores. Vale mencionar que esta inteligência está também muito associada à inteligência Lingüística.

Em minha visão a inteligência musical tem uma estrutura quase paralela à da inteligência lingüística, e não faz sentido científica nem logicamente chamar uma de inteligência (em geral a lingüística) e a outra (em geral a musical) de talento (GARDNER, 2001, p. 57).

Inteligência Espacial – Capacidade para perceber e manipular o mundo visual e espacial de forma precisa seja em áreas grandes, como o próprio espaço, ou em áreas mais confinadas, como por exemplo, a boca de um ser humano. É a inteligência dos artistas plásticos, engenheiros, dentistas, navegadores e pilotos.

Inteligência Físico-Cinestésica – Potencial para resolver problemas ou fabricar problemas utilizando o próprio corpo (mãos, boca) com a ajuda da coordenação grossa ou fina. Nessa inteligência enquadram-se cirurgiões, artesãos, dançarinos e atletas.

Inteligência Interpessoal – Capacidade de entender o próximo, compreendendo suas intenções, desejos, humores e temperamento. Vendedores, professores, psicoterapeutas, líderes religiosos e políticos precisam ter uma Inteligência Interpessoal aguda.

Inteligência Intrapessoal – Diz respeito ao individuo voltado para si mesmo, e sua habilidade para resolver suas questões interiores. Como é uma inteligência basicamente pessoal, só é possível percebê-la através dos sistemas simbólicos das outras inteligências, como a lingüística, ou musical (GARDNER, 2001).

3 Inteligências Múltiplas e o Ambiente Escolar

A literatura tem apontado que o atual sistema escolar valoriza alunos rápidos e eficientes, com bom desempenho em testes “decisivos”.

Pensem em folhas de testes, nas quais a pessoa deve escolher uma de quatro respostas ou preencher um item que está incompleto; pensem nos exercícios, em que é proposto um problema e se espera que a pessoa o resolva naquela noite ou durante o fim de semana; pensem nas apresentações em sala de aula, em que se espera que os alunos localizem informações obtidas a partir de leitura ou aulas e as apresentem de uma forma semelhante à original; pensem nos exames regulares e decisivos em que, com o relógio cronometrando, espera-se que a pessoa acesse informações reunidas durante um longo período de tempo e as reapresente, se possível, de uma forma acurada e que demonstre cera reflexão e muita originalidade (KORNHABER, WAKE, GARDNER, 1998, p.264).

Uma escola que se mantenha neste padrão não garante o sucesso do indivíduo na sociedade, que está em constante mudança e exige estratégias e resolução de problemas que vão além das habilidades lógico-matemáticas e lingüísticas, priorizadas pelo sistema escolar.

Gardner (1989, p. 264) cita a frase de um professor chinês que reflete um dos problemas enfrentados pela educação “Nós fazemos desta maneira há tanto tempo que sabemos que está certa”.

Um aspecto a ser ressaltado é que, a escolha das práticas pedagógicas é essencial para que o processo de ensinagem se complete, portanto, preciso estar sempre atento para que essas práticas não sejam mantidas apenas por hábito, mas, por ser a melhor estratégia de instruir os alunos.

Segundo Oliver (1997), Gardner propõe que todos os indivíduos, em princípio, têm a habilidade de questionar e procurar respostas usando todas as inteligências. Todos possuem como parte de sua bagagem genética, certas habilidades básicas em todas as inteligências.

As inteligências são, portanto, potencialmente determinadas pelo ambiente em que a pessoa está inserida, e cabe às escolas proporcionarem oportunidades para que seus alunos desenvolvam o máximo de suas capacidades.

Dessa forma, o professor deve adquirir uma postura pedagógica na qual o conteúdo seja articulado para produzir uma aprendizagem significativa, estando aberto a novas práticas de sala de aula. Para que esse processo seja efetivo, é primordial a capacitação docente, bem como sua constante atualização, buscando novas maneiras de inovar e melhorar seu desempenho em sala de aula, no sentido de atender às novas demandas que se revelam nos mais diferentes contextos educacionais.

Educar exige que o professor seja, ao mesmo tempo, criativo, flexível, que tenha sensibilidade para saber o que se passa com seus alunos, escutá-los, impor limites, além de competência acadêmica. É importante que docentes e discentes sejam curiosos, instigadores, pois como relata Fernandes,

(…) Ensinar significa aceitar os riscos do desafio do novo, enquanto inovador, enriquecedor, e rejeitar quaisquer formas de discriminação que separe as pessoas em raça, classes… É ter certeza de que faz parte de um processo inconcluso, apesar de saber que o ser humano é um ser condicionado, portanto, há sempre possibilidades de interferir na realidade a fim de modificá-la (FERNANDES, 2010, p. 02).

A criança deve ser estimulada em todas as inteligências desde pequena, para impedir que ela cresça com limitações em alguma área.

Porém, o docente deve considerar o desenvolvimento individual de seus alunos, pois cada um desenvolve-se de maneira diferente, e não há uma única inteligência capaz de comparar todas as crianças.

As inteligências em um ser humano são mais ou menos como as janelas de um quarto. Abrem-se aos poucos, sem pressa e pra cada etapa dessa abertura existem múltiplos estímulos.(…) É um erro supor que o estímulo possa fazer a janela abrir-se mais depressa. Por isso, essa abertura precisa ser aproveitada por pais e professores com equilíbrio, serenidade e paciência. O estímulo não atua diretamente sobre a janela, mas se aplicado adequadamente, desenvolve habilidades, e estas sim, conduzem a aprendizagens significativas (ANTUNES, 2000, p 19).

Além disto, deve-se evitar fazer comparação entre o progresso de uma criança com o de outra, pois a velocidade na aprendizagem não deve ser confundida com inteligência. A comparação, segundo Grispino (2006), gera uma competitividade desigual, fortemente desgastante e sem sentido.

4 Estratégias para o estímulo das Múltiplas Inteligências

Considerando que as Teorias das Inteligências Múltiplas ocupam um papel preponderante na elaboração de estratégias pedagógicas para a construção da aprendizagem, cumpre refletir o quanto essa abordagem é pertinente quando aplicada desde o momento que a criança se insere no contexto escolar.

Partindo da investigação bibliográfica, observa-se que, a inteligência lingüística está basicamente associada à linguagem, que se constitui um dos eixos básicos na Educação Infantil, visto que essa é essencial para a interação social do indivíduo, na construção de conhecimentos e para o desenvolvimento de idéias.

Compreende-se esta importância revisitando um dos eixos do terceiro volume do Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil (RCNEI).

Cabe ao professor, atento e interessado, auxiliar na construção conjunta das falas das crianças para torná-las mais completas e complexas. Ouvir atentamente o que a criança diz para ter certeza de que entendeu o que ela falou, podendo checar com ela, por meio de perguntas ou repetições, se entendeu mesmo o que ela quis dizer, ajudará a continuidade da conversa. Para as crianças muito pequenas uma palavra, como “água”, pode ser significada pelo adulto, dependendo da situação, como: “Ah! Você quer água?”, ou “Você derrubou água no chão”. Os professores podem funcionar como apoio ao desenvolvimento verbal das crianças, sempre buscando trabalhar com a interlocução e a comunicação efetiva entre os participantes da conversa (RCNEI, 2000).

De acordo com Bertoldi (2010), uma criança a partir dos quatro anos consegue pronunciar todos os sons corretamente, podendo haver dificuldades em apenas alguns fonemas mais complicados. A idéia central é ampliar o repertório da criança, melhorando sua comunicação verbal e o desenvolvimento da coordenação motora fina, condições básicas para iniciar o processo de alfabetização.

Para que a inteligência lingüística seja trabalhada eficazmente, o docente deve promover um ambiente rico em linguagem, trabalhando os escuta, fala e escrita.

Algumas estratégias para esta finalidade incluem: contar histórias (qualquer assunto adquire vida quando narrado), estimular os alunos a contar histórias, discussões dirigidas e sob controle do professor, entrevistas, estímulo da escrita através de roteiros para peças, quadros de avisos, poemas, cartazes, folhetos, diários imaginários, canções, dentre tantas outras opções (CAMPBELL, CAMPBELL & DICKINSON, 2000, p. 28).

Para desenvolver a inteligência lógico-matemática nesta faixa etária, pode-se utilizar de atividades que desenvolvam o raciocínio, tais como quebra-cabeças, vivências em que a criança perceba o papel da matemática na vida cotidiana e jogos de lógica.

É o desenvolvimento prático da teoria proposta pelas Inteligências Múltiplas, em simples exercício de buscar a lógica das coisas ou de descobrir que determinados enunciados “não apresentam qualquer lógica”, constituem operações mentais estimuladoras dessa competência como também as constituem os exercícios pedagógicos de trabalhar as habilidades de classificação, comparação ou dedução” (ANTUNES, 2000, p. 32).

A inteligência espacial deve buscar o trabalho com o espaço, que pode ser através de observações de mapas simples, brincadeiras de direções, desenhos em papéis de diferentes tamanhos para que a criança adapte sua ilustração ao tamanho do papel.

Variedade no material de aprendizagem, mistura das artes visuais e as artes da linguagem, uso de fantoches e a pintura mural, uso da tecnologia com softwares que facilitam o desenho, as linhas de tempo e os gráficos, podem acrescentar uma dimensão visual às lições em sala de aula e às exposições. Quando esses processos são usados com uma freqüência e uma habilidade crescentes, torna-se evidente que o pensamento visual estimula operações mentais em geral não-realizadas nos modos verbais (CAMPBELL, CAMPBELL & DICKINSON, 2000, 102-103).

A música também pode tornar-se um importante auxílio no ambiente educacional, de acordo com Campbel, Campbell & Dickinson (2000), ela pode acalmar grupos ativos e inquietos, estimular alunos cansados ou sonolentos e até mesmo para ajudar a recordar informações. Cabe ao docente saber aplicar músicas de qualidade e no momento certo.

Os educadores precisam estar conscientes de que o movimento é fundamental para a aprendizagem, principalmente em crianças tão jovens como é o caso da Educação Infantil, no entanto, devido ao histórico da educação, ainda hoje encontramos professores que querem seus alunos imóveis, sentados (nas cadeiras) em carteiras e por um longo período de tempo.

Desta maneira, o professor estando ciente da importância do desenvolvimento da inteligência físico-cinestésica, deve ajustar as salas de aula em espaços apropriados que possam acomodar melhor as necessidades táteis de movimento das crianças.

O simples fato de proporcionar aos alunos a oportunidade de andar de um espaço de trabalho para o outro satisfaz a necessidade de levantar, movimentar e estar ativo (CAMPBELL, CAMPBELL & DICKINSON, 2000, p.78).

A inteligência intrapessoal, como já foi dito anteriormente, é de caráter pessoal, porém pode ser melhor desenvolvida com o auxílio do educador, principalmente na Educação Infantil, onde o afeto é fundamental. O âmbito escolar deve ser acolhedor, promover a diversidade cultural e estimular a participação efetiva dos alunos. Sendo assim, o docente deve reconhecer o esforço de seus alunos, estimulando-os com elogios sinceros. Campbell, Campbell & Dickinson (2000), afirmaram que “o elogio, quando feito, deve ser sincero eadequado à tarefa realizada.”

No caso da inteligência interpessoal, esta pode ser estimulada com atividades em grupos orientados pelo docente, de modo a desenvolverem habilidades sociais, visto que estas não são inerentes ao ser humano.

As habilidades sociais incluem organizar grupos eficientes, demonstrar comportamento adequado, usar habilidades de aprendizagem eficientes e criticar e avaliar cooperativamente as idéias (CAMPBELL, CAMPBELL & DICKINSON, 2000, p.155).

4 Sugestão de uma estratégia pedagógica utilizando as Múltiplas Inteligências

A idéia de que a Teoria das Inteligências Múltiplas contribui para sustentar uma aprendizagem significativa desde os primeiros anos escolares, permite que se faça algumas sugestões para o efeito da mesma nos contextos da Educação Infantil.

Lenda da Iara

Conteúdo: Lendas Folclóricas Brasileiras

Objetivo: Conhecer lendas do folclore brasileiro, ampliando o repertório cultural.

Material Necessário: Livro ilustrado com a lenda da Iara, papel canson tamanho A-3, nankin (várias cores), lápis de cor, cotonete, papel machê, tinta acrílica, papel rococó.

Tempo Estimado: 5 aulas

Desenvolvimento:

1ª etapa – Contar a lenda da Iara. Após ouvir a lenda a turma deverá, individualmente, fazer um registro ilustrando a parte que mais gostou. A técnica a ser utilizada será cotonete com nankin para o desenho e lápis de cor para colorir.

2ª etapa – Fazer o reconto da lenda junto com a turma. Eles devem contar a lenda enquanto a professora escreve, fazendo intervenções para que percebam a diferença entra a língua falada e a língua escrita.

3ª etapa – Confecção coletiva da personagem Iara em tamanho real, utilizando papel machê.

4ª etapa – Pintar coletivamente a Iara com tinta acrílica e colar o papel rococó para o cabelo.

5ª etapa – Convidar uma turma para ir até a classe e contar a eles a lenda da Iara.

Ao ouvir e elaborar o reconto da lenda, as crianças estarão desenvolvendo a inteligência lingüística, seja na habilidade oral ou escrita, pois apesar de ainda não saberem escrever, com a ajuda do educador poderão perceber a diferença entre as duas linguagens.

Com a utilização da ilustração em papel canson, esta tem como objetivo estimular a inteligência espacial, pois as crianças deverão adaptar o desenho ao tamanho do papel, maior do que o tradicional A-4; além disso, estarão trabalhando com uma técnica diferente, pois o traçado do nankin com cotonete é mais grosso do que um lápis grafite ou caneta hidrocor.

Ao confeccionar a Iara com papel machê, estarão desenvolvendo também a inteligência físico-cinestésica, pois utilizarão o próprio corpo (no caso as mãos), para fabricar o objeto. Além disso, estimularão também a inteligência interpessoal, pois todo o trabalho deverá ser feito em grupo.

Com este exemplo, pretende-se mostrar que as inteligências podem ser estimuladas sem dificuldade na Educação Infantil, basta o professor variar nas estratégias utilizadas em sala, ser criativo e inovador. Nesta proposta espera-se que sejam desenvolvidas 4 inteligências, acrescida da inteligência intrapessoal, que deve ser estimulada diariamente pelo docente. Porém, a cada planejamento, deve-se variar os estilos de atividades, buscando o maior número de informações que ampliam o repertório das crianças.

Segundo Gardner, existem várias estratégias que são significativamente importantes para realizar um trabalho dentro dos conceitos das Inteligências Múltiplas. Por exemplo:

Separar o máximo de dados sobre como a criança lê e dividir este conhecimento com o professor e com a criança (Quando a criança vai ficando mais velha, ela mesma pode dar muita informação). Cada criança chega à escola com uma “bagagem cultural” diferente da outra, e este conhecimento deve ser considerado pelos professores. (GARDNER, 2001, p.187-188).

O autor expande esse argumento, considerando que é importante

•Permitir que os alunos continuem muitos anos com o(s) mesmo(s) professor(es), para que possam ficar se conhecendo bem.

•Ter um sistema eficaz de transmissão de informações nas escolas, para que os professores do próximo ano saibam o máximo possível sobre os novos alunos. E garantir que o professor tenha acesso rápido a esta informação e possam atualizá-la conforme necessário.

•Ser flexível na hora de designar o professor para as turmas, para que possa haver mais compatibilidade entre professor e alunos.

•Ter alunos mais velhos trabalhando com os mais novos, ou ter alunos com abordagens de aprendizado compatíveis ou complementares trabalhando juntos (GARDNER, 2001, p.187-188).

Há, portanto, uma sinalização clara da intenção de fortalecer outras formas de ensinar além das práticas vivenciadas no cotidiano, alertando os educadores para a necessidade de redefinir o seu papel, pensando no desenvolvimento da aprendizagem de modo mais significativo, acompanhando o impacto de um novo tempo.

5 Considerações Finais

Este artigo tem como referência a Teoria das Inteligências Múltiplas de Howard Gardner. Como visto, esta teoria sugere que o ser humano é dotado não só de uma inteligência geral, mas de diversas inteligências, com determinados perfis, e podem se desenvolver se valorizadas e estimuladas pelo ambiente. Assim, cabe à escola, na figura do educador, oferecer atividades que estimulem as múltiplas inteligências de seus alunos.

Gardner (2001) chama a atenção para o fato de que as escolas declaram preparar seus alunos para a vida, no entanto a vida certamente não se limita a raciocínios verbais e lógicos. A mente humana é dotada de múltiplos componentes, e deve ser estimulada tanto em casa quanto em sala de aula, por isso é cada vez mais necessário repensar os objetivos e métodos educacionais.

A educação também deveria valorizar as diferenças humanas para cada estilo de aprendizagem, garantindo o crescimento do potencial intelectual particular da pessoa.

Depois de conhecer mais profundamente a teoria das Inteligências Múltiplas, chega-se a conclusão de que na educação não basta seguir a razão, raciocínio lógico, cognição e linguagem que são essenciais, mas, é imprescindível que estejam interligados às demais facetas da mente humana.

Por fim, é inegável a importância desta estratégia, uma vez que contribui para mostrar que, a variedade de inteligências humanas, conduzem a uma nova visão da educação, onde devem ser respeitados os diferentes perfis intelectuais identificados desde criança.

Referências bibliográficas

  • ARMSTRONG, Thomas. Inteligências múltiplas na sala de aula. 2. ed. Porto
    Alegre: Artmed, 2001.
  • ANTUNES, Celso. Jogos para a estimulação de múltiplas inteligências. Petrópolis: Ed. Vozes, 1998.
  • CAMPBELL, Linda; CAMPBELL, Bruce & DICKINSON, Dee. Ensino e Aprendizagem por meio das Inteligências Múltiplas. 2 ed. Porto Alegre:Artmed, 2000.
  • GARDNER, Howard. Inteligência: um conceito reformulado. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
  • GARDNER, H; KORNHABER, M e WAKE, K. Inteligência: Múltiplas Perspectivas. Porto Alegre: ArtMed, 1998.

Referências Midiáticas

MINICURRÍCULO DO AUTOR

Graduada em Pedagogia (2010) pela Unaerp. Pós-graduanda em Psicopedagogia Clínica e Institucional com ênfase em psicologia também pela Unaerp.

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